terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Noël

             A Champs-Élysées, avenida mais glamourosa de Paris, que vai do Arco do Triunfo até a Place de la Concorde, está toda enfeitada para as festas de final de ano. Além de todas as luzes, acontece, desde o dia 19 de novembro até o dia 2 de janeiro de 2011 o Marché de Noël, que é uma espécie de feira com barraquinhas que vendem comida, roupa e todo tipo de souvenir que você possa imaginar. Na Place de la Concorde está instalada uma roda gigante do tamanho do obelisco. Descemos na estação Franklin Roosevelt, que fica no meio da grande avenida. Caminhamos até o Arco e voltamos em direção à roda gigante pelo outro lado. Ursos dançantes, papais noéis acrobatas, árvores animadas, esculturas de gelo. Ao contrário das luzes, os preços não eram nada atrativos, então só compramos uma pizza para degustarmos durante o passeio, para desespero das mãos desenluvadas.









sábado, 25 de dezembro de 2010

Maison de Victor Hugo

           Domingo passado fomos visitar um apartamento em que Victor Hugo morou. Ele fica na Place des Vosges, a mais antiga de Paris. Chegamos lá e nos deparamos com uma exposição de fotos de escritores que acontece no andar de baixo do apartamento, então aproveitamos para conferir a exposição também. Dentre as coisas que vimos, as mais fascinantes foram: as penas que Victor Hugo usou pra escrever “Os miseráveis” expostas num balcão de vidro; o livro “Lucrécia Bórgia” todo rabiscado pelo autor, mesmo depois de publicado, e uma escrivaninha em seu quarto, planejada para ele escrever de pé. Eu só pude pensar em uma razão para isso, que descobri quando puxei a cortina da janela que fica perto do móvel e vi a praça cheia de neve, o colorido do prédio combinando com as árvores e os pássaros sobrevoando o lugar. Estou certa de que ele só resolveu escrever de pé porque aquela vista privilegiada certamente renderia boas inspirações para suas histórias.



 







Este vídeo eu achei no site da prefeitura de Paris, ele fala e mostra um pouco da exposição.


Portraits d'écrivains à la maison Victor Hugo

domingo, 19 de dezembro de 2010

Artistas do metrô

            É muito comum aqui em Paris ver artistas se apresentando no metrô. Dentro do trem ou nas estações. Já vi coisas belíssimas, como uma violoncelista tocando Mozart no Porte de Maillot e uma senhora tocando harpa sentada no chão.
            Claro que tem aqueles que dão vontade de tapar os ouvidos. Tem um rapaz, que vejo seguidamente, que entra sempre numa estação depois da minha. Como desafina aquela criatura! E, pra agravar ainda mais a situação, ele não toca nenhum instrumento, mas canta em cima de uma trilha que sai de uma geringonça estranha e enorme, a qual, além do incômodo auditivo, fica atrapalhando os transeuntes. Duvido que o que ele ganha dê pra pagar almoço e janta.
           Os acordeonistas geralmente são bons, mas são os campeões em escolher músicas chatas, aquelas músicas que todo mundo conhece. Um exemplo é a canção popular russa Dorogoy Dlinnoyu. Que música pegajosa! E eu, sendo brasileira, ainda tenho o agravante de lembrar da versão silviossantista: “Pedro de Lara, lá lalalalá lalá, lalalalá, lalá lalá lalááá” Que merde!
          Tem também aqueles que assustam você. Um dia eu tava indo pro meu curso de francês bem distraída, lendo o Direct Matin, quando uma mulher entrou na estação Denfert-Rochereau. Eu nem dei pela presença dela, até que a mesma começou a cantar uma ópera com o volume no 150. Quase caí do banco de susto. Tudo bem que ela tenha que cantar alto pra todo o trem escutar, e assim poder ganhar mais dinheiro, mas pra mim, que estava bem ao lado, foi insuportável ficar ali. Desci na próxima estação e esperei o trem seguinte.  
          Hoje, na volta do nosso passeio pela neve parisiense, vimos, não um artista, mas uma orquestra de câmera inteira. Eles estavam num dos corredores da estação Châtelet Les Halles, uma das maiores e mais movimentadas de Paris. Algumas pessoas que passavam começaram a se aglomerar para ver o espetáculo. Outras, com pressa, passavam sem dar crédito. Ficamos uns dez minutos ali curtindo o show e ouvindo o estalar das moedas que caíam aos punhados no case do violoncelo aberto no chão. Ainda bem que eles tiveram a ideia de abrir o case do violoncelo, porque no do violino não caberia tanto dinheiro.
           Ou seja, tem tanta gente tocando no metrô de Paris que, pra ganhar dinheiro como músico por aqui, não basta ser bom; também é preciso impressionar.



sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Chorale

             No início de outubro, passando pelo saguão do prédio principal da Cidade Universitária, vi um folder do “Chorale de la Cité Internationale”. Já fiquei eufórica e disse pro Doug: tenho que cantar nesse coro. Anotei o dia dos testes e fui com a voz e a coragem enfrentar o maestro. O teste consistia em solfejar umas notas e também uma melodia que ele tocava no piano, cantar uma música da minha escolha, ler um pedaço de uma partitura batendo palmas e descobrir o tempo dela. Ufa! Graças às minhas aulas de teoria musical, eu consegui.
           Na metade de outubro eu já estava frequentando as “répétitions”. O primeiro dia foi pra matar. Me deparei com umas 80 pessoas, certamente de mais de 15 nacionalidades. O maestro mandou a gente pegar uma dezena de partituras em cima de uma mesa, e já começou o ensaio. Fez um pequeno aquecimento e, voilà, deu ordens para o pianista assistente começar as músicas. Eu estranhei um pouco, pois estava acostumada a ouvir a melodia no piano antes e o maestro passar separadamente todos os naipes. Aqui não; se canta em coral, tem que saber ler partitura e já sair cantando. No primeiro ensaio, eu me assustei um pouco, mas, no segundo, eu já estava adaptada ao método do maestro.  
          O maestro é ítalo-americano, mas com um jeito muito mais ítalo do que americano: fala alto, gesticula e fala muitas línguas. Não que seja poliglota no sentido literal do termo; é que ele fala francês, inglês e italiano, tudo junto, numa mistura que tem que ficar com os ouvidos ligados pra entender.
          Além da língua que só o maestro fala, eu tive que aprender a pronúncia do russo, do polonês, do árabe e do alemão, que são as línguas em que cantamos, além do francês, do italiano, do espanhol e do inglês, que, em comparação com as primeiras, são fichinha.
         Sábado, dia 11, fizemos a nossa primeira apresentação. Eu estava um pouco apreensiva, pois tínhamos ensaiado somente um mês e meio. Porém, o maestro fez milagre, e o concerto foi maravilhoso. Cantamos 13 músicas nas 8 línguas diferentes. Um violoncelista francês e um pianista taiwanês muito bons nos acompanharam. O salão Honnorat lotou e o público fez muito barulho. Teve até um momento em que o maestro fez um solo vocal, o coral de 60 vozes entrou no refrão, e eu senti o palco e o coração tremerem. Como o bis já estava incluso nas músicas e os aplausos não cessavam, tivemos que repetir um dos números. Eu estava muito feliz de estar ali, e enquanto cantávamos o bis, eu esqueci da partitura e comecei a lembrar das pessoas dos corais pelos quais passei. Como eu queria que todos estivessem ali vivendo aquele momento comigo!
           Desci do palco em estado de êxtase e logo encontrei o meu amado e a Moeko. Os dois foram os meus fotógrafos. Depois da apresentação, fomos nós três e a Anna conversar e beber no Quartier Latin.
           Descobri que os corais são parecidos em todo o mundo: o figurino de Natal é preto e vermelho, o maestro é sempre uma figura, o coro começa com um certo número de cantores e, no dia da apresentação, só tem um pouco mais da metade. E, apesar de você achar que as coisas ainda não estão prontas, sempre vai ter alguém na plateia que vai chorar.

         Dedico este texto, as fotos, o meu carinho e Paris à maestrina e aos maestros da minha vida: Cibele Tedesco, Martin Altevogt, Juliano Volpato e Ivan Montanha.










Vídeos:

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Arigatô

          Sexta-feira nossa “soireé” foi incrível! Minha amiga Anna Konishi nos convidou para jantarmos na “Maison du Japon”. Minha identificação com os orientais aumentou ainda mais depois desse encontro. Eles falam baixo, não fazem alarde, são organizados, mas nem por isso deixam de ser receptivos e simpáticos. Eu os adoro!
           Éramos quinze pessoas mais ou menos, na sua maioria de japoneses, mas também tinha uma italiana, uma francesa, uma sueca que mora na Áustria, um tunisiano e o nosso amigo Gonzalo, que conhecemos aqui na França, mas que é tão gente boa que parece que é nosso amigo há vinte anos.
          Entre um sushi e outro, que estavam uma delícia, acompanhados de um saquê tão doce quanto perigoso, e no meio de tanto japonês, me lembrei de uma hipótese da qual ouvi falar uma vez: de que o “arigatô” dos japoneses tem origem do “obrigado” de Portugal. O Gonzalo me olhou com uma cara estranha e, duvidando, foi perguntar para um japonês. O japonês disse que não sabia da história, que era pouco provável, e ainda explicou que arigatô vem de uma palavra em japonês “arigatashi” que em português significa “raro”, “muito especial”. Mas depois ele explicou que algumas palavras do japonês vêm realmente do português, pois os portugueses e os espanhóis foram os primeiros europeus a aportarem no Japão e que, por exemplo, a palavra japonesa “boro” vem da palavra em português bolo.
          O Gonzalo, sempre espirituoso e aproveitando do fato de que eu estava errada, resolveu, então, tirar um sarro da minha cara: disse que ele também tinha ouvido falar que a bandeira do Japão era inspirada na bandeira da Argentina, pois aquela bola vermelha era realmente muito parecida com o sol. O japonês só ria. Ele devia estar pensando: esses sul-americanos são muito esquisitos!        
          Uma coisa que percebemos foi que, em um mês, o nosso francês melhorou dinossauricamente e podemos dizer com orgulho que, nessa festa, nenhuma história ficou sem um final por falta de vocabulário. Praticamente não usamos o portunhol, salvo uma hora em que o argentino perguntou o que significava “vai embora” em português. Explicamos que essa expressão é usada quando queremos que uma pessoa desapareça da nossa frente.
          Na saída, a Moeko nos mostrou o seu quarto. Ao contrário dos apartamentos compactos japoneses que vemos na tevê, os quartos da Maison du Japon são bem espaçosos, têm estante pra colocar muitos livros repletos de ideogramas e paredes de uma sobriedade que nos fizeram lamentar o colorido dos quartos da Maison du Brésil. Depois, junto com o Gonzalo, nossa amiga nos levou até o acesso a um outro corredor. Eu já ia abrindo a porta, quando o Gonzalo se pôs na nossa frente.  Eu disse que era bom mesmo ele abrir, pois assim nós voltaríamos mais vezes. Essa superstição ele não conhecia, mas, quando estávamos no fim do corredor, chegando na porta da saída, ele nos chamou e pediu para esperarmos. Então, veio correndo abrir a porta pra nós voltarmos mais vezes e, mostrando que já é um bom aluno de português, fez os últimos cumprimentos: vai embora!







sábado, 4 de dezembro de 2010

Neve

Faltam quase vinte dias para o inverno, mas aqui já começou a nevar há mais de uma semana. Logo, acabaram os nossos passeios pelos bosques e parques, e isso por dois motivos: o primeiro é que eles ficam fechados quando neva; o segundo é porque também dá muita preguiça sair de casa quando se olha pela janela e se tem a sensação de que até dentro da geladeira está mais quente. Então ultimamente a gente só faz programas em lugares fechados: cinema, concertos, barzinhos e a geladeira.
Hoje, porém, resolvemos deixar o nosso iglu e fomos caminhar pela cidade, apesar dos termômetros estarem marcando sensação térmica de -6º C. Quando passávamos pelo gramado principal da Cité Internationale, que mais parecia uma pista de esqui, um grupo estava brincando de guerra de neve. Ao chegarmos perto, fomos bombardeados pelas granadas brancas. Era o nosso amigo argentino Gonzalo e mais três japoneses que resolveram tirar o dia para se esquentarem correndo por aí. Não ficamos para participar da brincadeira, porque queríamos ver se o Sena estava congelado. Chegando à Rive Gauche, vimos que o rio ainda possuía forma líquida, ao contrário da neve das suas margens. Às cinco horas da tarde, eu não aguentava mais ficar na rua, então acabamos o dia num restaurante quentinho do Quartier Latin.
Não nasci pra passar frio e minha saúde nunca foi de ferro. Já fiz um estoque de mel e limão para poder sobreviver a esse inverno europeu. E só não escrevo esse texto mais longo porque até o cérebro já está congelando.










quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Tapas em Paris

Vocês não vão acreditar, por isso vou mostrar a foto. Eu encontrei um bar que faz "tapas" aqui em Paris, na Avenue de la République.



Morte na Notre-Dame

            
A primeira vez que entramos na Notre Dame de Paris foi por acaso. Todas as vezes em que passávamos por ela, a fila para conhecê-la por dentro era gigantesca. Mas eis que um dia saímos para visitar o Salon de la Revue, um evento anual que reúne as editoras universitárias francesas, e, na volta, vimos que a fila estava pequena, provavelmente porque ventava muito e o frio tinha assustado os turistas: não havia ali mais do que cinquenta pessoas, por isso resolvemos encarar a mesma espera. Mas os 48 chineses andaram rápido e, em menos de cinco minutos, estávamos dentro da catedral mais famosa do mundo. Quando respirei meu primeiro suspiro, já estava emocionada com tamanha grandiosidade.
Chegamos no meio de uma missa, e os fiéis que assistiam à celebração estavam cercados por umas fitas que impediam a entrada dos turistas na parte central do templo. Começamos a nossa visita pelas bordas da igreja, e como em todas as igrejas da França, encontramos as máquinas que vendem medalhinhas, que apelidei de fliperamas da fé. Um cartaz bem na porta avisava que era proibido tirar fotos durante a celebração, mas isso não assustou os orientais (ou eles não sabem ler em francês), pois nem conseguimos ver direito a igreja de tanto flash, aliás eu não sabia que santo católico era celebridade no oriente.  Contornamos o altar e, quando chegamos à saída do outro lado, vimos que as fitas que protegiam os fiéis tinham sido retiradas. Aproveitamos assim para sentar um pouco e conferir a parte do meio da igreja.
Em menos de quinze minutos a igreja esvaziou e encheu novamente para uma outra missa. Viramos para trás e vimos que a igreja continuava enchendo, quando viramos de volta em direção ao altar uns oito padres e um coral já apareciam à nossa frente. E antes que pudéssemos confessar livremente a nossa fé, o órgão medieval já ressoava os primeiros acordes do rito de entrada. Resolvemos ficar.
Tudo foi mágico até o final do sermão, quando o padre deu um descanso para a Bíblia, resolveu mudar de assunto e ficou uns quinze minutos falando sobre a importância da doação de dinheiro à igreja. Tudo bem que eles precisam manter toda aquela estrutura de alguma forma, pois a prefeitura não disponibiliza recursos financeiros para instituições religiosas, mas como disse o Renato Russo uma vez e apareceu domingo no Fantástico, Jesus não cobra ingresso.
Na saída, numa desigual concorrência aos rogos do padre, uma cigana pedia esmola; uma das poucas que sobraram por aí, pois o Sarkozy andou deportando os ciganos todos de volta pra Romênia. Pobre do corcunda, que agora não tem mais por quem se apaixonar!
Por coincidência, eu estava no primeiro páragrafo deste texto quando o Douglas me chamou pra ver um filme na Maison du Mexique chamado “Antonieta”, dirigido por Carlos Saura, que conta a história de Antonieta Rivas Mercado, da infância mexicana até o suicídio. E onde é que ela foi se suicidar? Na Notre-Dame de Paris! Sentada numa daquelas cadeiras, com um revólver apontado para o próprio peito. Mas confesso que, apesar do sinistro, quero voltar à catedral muitas vezes ainda. Depois de saber desse suicídio eu a verei com outros olhos. Estou ansiosa também pra subir nas suas torres e ver a paisagem, que deve ser linda (pois a igreja fica no meio de uma ilha), além de poder ver as gárgulas de perto. Tenho certeza de que se trata de uma visão única. Aliás, o que diria Victor Hugo se visse a Notre-Dame sem as ciganas e com máquinas de vender santo?

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Tapas em Granada

           Na última quinta-feira, dia 11, pegamos o avião no aeroporto de Orly em direção à Espanha. Conseguimos uma passagem por 87 euros (ida e volta) pela companhia Transavia. Foi a primeira vez em que subi as escadas de um avião, depois que um ônibus nos levou até a pista. Até então eu só tinha entrado por aquelas passarelas fechadas que ligam o aeroporto à aeronave. Mas agora chovia e ventava em Paris, meu cabelo esvoaçava para todos os lados e eu me senti uma estrela de cinema. No entanto, já no avião, meu sonho acabou, pois nem comida serviram; pedimos uma coca e o aeromoço respondeu: 3 euros, s’il vous plaît. Também comecei a perceber a gritante diferença entre os franceses e os espanhóis: além da língua, os espanhóis falam mais alto, se vestem com roupas mais coloridas e as mulheres usam muita maquiagem.
           Depois de duas horas exatas de voo, desembarcamos no pequeno Aeroporto García Lorca, em Granada, com o termômetro marcando 20°, bem melhor do que o frio que já aterrissara em Paris. Granada fica no sul da Espanha e se localiza na região da Andaluzia. É dividida em duas partes: uma recente e uma muito antiga. A parte nova da cidade não é muito bonita; aquela coisa: comércio, trânsito, prédios, mas a parte antiga é fascinante, com sua arquitetura em estilo árabe e seus grandes jardins. Ficamos hospedados na casa do nosso amigo Clóvis, que tinha viajado conosco e que nos mostrou a cidade. O nome Granada, segundo ele, é por causa da fruta “granada”, em português “romã”.
No primeiro dia, já fomos visitar a Alhambra, que inclui palácios no alto da cidade, construídos durante a ocupação árabe na Espanha. A arquitetura é luxuosa e cheia de formas diferentes das nossas ocidentais. Os jardins são cheios de fontes, cercas-vivas e muitas rosas. Das torres dos palácios, você pode ver toda a cidade de Granada, e também a Sierra Nevada, que é um grupo de montanhas cobertas de neve. Ainda na Alhambra, vimos uma exposição de Matisse, artista que está em alta por lá devido ao centenário de sua expedição à Andaluzia; e ele também saiu de Paris, como nós.
           Se não bastassem as belezas da Alhambra, tem dois bairros em Granada que são fantásticos: o Sacromonte e o Albaicín. Neles, todas as casas são brancas. Subindo as ruas estreitas do Sacromonte, passamos por algumas “cuevas”, que são casas de shows escavadas nas pedras e servem de palco para as apresentações de flamenco, ritmo que nasceu ali mesmo há mais de dois séculos. Em uma mesma rua eu contei mais de dez cuevas. Entramos em duas delas para conhecê-las por dentro. Numa delas, uma cigana queria ler a minha mão enquanto a outra oferecia cerveja, água e souvenirs para o Douglas e o Clóvis. Elas queriam nos extorquir a qualquer custo e, embora minha mão estivesse vazia, a cigana não queria largar. Depois de muita manobra, por cinco euros compramos uma garrafa de água suspeita, batemos uma foto, levamos uma cerâmica granadina e o meu futuro continuou um segredo que só à minha mão pertence.               
            Descontando o fato de que passamos os cinco dias caminhando como camelos, o que mais fizemos em Granada foi comer. Começamos pela tradicional “paella”, tendo como entrada um prato chamado “pimientos de piquillo rellenos de bacalao”, que são uns pimentões vermelhos com uma saborosa pasta de bacalhau por dentro e molho vermelho por fora. Tudo isso regado a sangria, que é um vinho suave com frutas. Mas o que eu mais gostei foi das “tapas”, que você encontra em vários bares da cidade: é só pedir uma bebida e junto com ela vêm uns aperitivos que variam de uma simples porção de batatas com bocadillos e azeitonas a uma refeição como massa e arroz à grega. Sempre que cansávamos da caminhada, parávamos num bar para umas tapas, cujos preços variam de 1,50 a 3,00 euros. Eu, todas as vezes, adorei a ideia. Até no último dia, em que fomos de mala e tudo apreciar umas tapas antes de viajar de volta a Paris.
         À meia-noite de terça-feira, dia 16, já estávamos de volta à capital francesa, que continua sendo minha cidade preferida. Se tivesse as tapas e os shows de flamenco aqui, ela seria perfeita e eu daqui não sairia nunca mais.
Alhambra


 




 


Cueva 








quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Intercâmbio

         Essa semana está sendo bem corrida e muito bem aproveitada. Nosso amigo Clóvis está aqui conosco desde domingo. Como o Doug e eu tínhamos ainda quase oito meses para curtir a cidade, e o sol estava brilhando todos os dias, já não visitávamos mais lugares fechados, pois estávamos deixando essa parte para o inverno. Mas essa semana a chuva resolveu aparecer de vez; então, na companhia do nosso amigo, subimos até o topo da Sacre Coeur. Foram mais de 300 degraus em caracol, mas valeu a pena. A vista lá de cima é deslumbrante e, como a torre da basílica é circular, a gente conseguiu ver a cidade em todas as direções. Ainda no domingo nós visitamos o Orsay e conseguimos ver o que não tínhamos visto da primeira vez. Ontem entramos na Ópera Garnier; eu não esperava que fosse tão lindo. Quando vi a sala de espetáculos, me senti em pleno século XVIII. O teto tem uma pintura linda, o palco é gigante e as cadeiras, forradas com um veludo grosso e vermelho, mais parecem tronos. O lugar é realmente impressionante.
            Apesar de todas as previsões indicando muita chuva, na saída do Opéra, o sol nos alegrou com seus raios tímidos e pudemos caminhar pela cidade. No fim do dia tomamos um café no Jardin des Tuileries e depois fomos até o Louvre. Entramos pirâmide abaixo, mas acabamos ficando só na livraria, pois estávamos exaustos da caminhada que tinha começado no Arco do Triunfo e passado por toda Champs Élysées, Place de la Concorde, Place Vendome e Tuileries.  Hoje o Doug e o Clóvis acordaram cedo pra visitar o maior museu do mundo. Eu fiquei em casa arrumando nossas malas, pois à tarde estaremos embarcando para Granada com o nosso amigo. Ficaremos na Espanha até o dia 16, então provavelmente não conseguirei escrever até lá. Na volta eu conto como foram as nossas aventuras no país das touradas.