sexta-feira, 3 de junho de 2011

Les Flâneurs

            Flanar: passear sem direção, contemplando a paisagem e as pessoas. Não é coisa pra turista, que anda sempre com pressa, perseguindo o recorde de monumentos por dia de viagem. Flanar é dar o tempo necessário para a cidade e o visitante se conhecerem. Depois de nove meses na França, podemos dizer que, definitivamente, não somos turistas. O último lugar em que iríamos num final de semana seria a Torre Eiffel. Por quê? Porque ela está sempre tomada por turistas e vendedores de todo tipo de muamba que você possa imaginar. Não se pode nem caminhar com tranquilidade. A torre é linda, mas ela fica muito mais charmosa quando você a enxerga das margens do Sena, a pelo menos um quilômetro de distância. Os outros pontos turísticos também estão sempre invadidos, se não por camelôs sem banca, por chineses com suas máquinas superpotentes no pescoço, americanos de chapéu e bermuda laranja, espanhóis e italianos gesticulando e muitos brasileiros de todos os sotaques do país.  
           Nesse mês de maio recebemos algumas visitas. Todas elas estavam descobrindo a França pela primeira vez, mas tivemos sorte porque nossos hóspedes não bancaram os turistas desesperados: aqueles que tem que ver tudo, estão sempre com pressa e ficam contentes só em bater uma foto em frente ao monumento e já correr pra outro. As nossas visitas, ao contrário, não fizeram exigências e deixaram os trajetos por nossa conta. Isso permitiu que mostrássemos a cidade do nosso jeito. Claro que passamos por alguns pontos turísticos – Paris é cheia deles –, mas foi com calma, com longas paradas nos bancos e jardins públicos para descansar e contemplar a paisagem.
A primeira visita de maio foi o nosso amigo Piccoli. Sem muita combinação prévia, acabamos passando o seu primeiro dia em Paris juntos: tomamos café no Montmartre, passeamos pelo Quartier Latin, e acabamos o dia com uma janta regada a vinho na Maison du Brésil.
           Três dias depois, nosso amigo ia embora, mas já era a vez de chegaram a mãe e a irmã do Doug. O maravilhamento da Deise é algo que faz bem pra alma. É muito bom ver um Modigliani com quem fica vários minutos em frente ao quadro, com os olhos brilhando, mas que também não se perturba com interrupções de seus anfitriões querendo saber se um móvel de museu é art déco ou art nouveau. Já a mãe do Doug, mais bucólica, preferia inspirar o perfume das flores dos jardins de Paris.
           Com o nosso amigo Juliano não foi diferente. Ele, que passou com a gente os últimos dias de maio, deixou bem claro que não estava interessado em pontos turísticos, então o levamos aos lugares de que mais gostamos em Paris: as estreitas ruas do Marais, as margens do Sena, o Jardim de Luxemburgo e o Quartier Latin. Esses são, certamente, os lugares de Paris em que você mais respira a cidade. Posso dizer que cultivo por eles uma paixão tão intensa que será impossível não sentir saudades.
           Flanar por Paris é como reviver as histórias de muitos escritores que passaram por aqui e que registraram suas impressões sobre a cidade-luz; mas receber amigos que vêm com olhar de artista – e não de turista –, e poder mostrar a eles a Paris de que gostamos torna a nossa experiência muito mais inesquecível.
















segunda-feira, 9 de maio de 2011

Strasbourg

            Dia 28 e 29 de abril estivemos em Strasboug, uma cidade francesa que faz divisa com a Alemanha. Estou sem tempo de contar a viagem no blog, só vou colocar umas fotos. Estamos felizes, esse mês de maio será o mês das visitas, já recebemos um amigo, hoje chega a mãe e a irmã do Doug e fim do mês chega um outro amigo. O blog ficará de molho por um tempo.









domingo, 24 de abril de 2011

Promenades

            Toda vez que eu digo pro Doug “preparei um passeio pro final de semana”, ele me pergunta: “quantos quilômetros vamos andar?” Isso porque nós não achamos a menor graça em pegar um transporte e parar em frente ao lugar que queremos conhecer, nós gostamos de caminhar pela cidade e descobrir lugares novos. Preferimos caminhadas a monumentos. Ainda não subimos na Torre Eiffel, mas já gastamos nossos tênis nas ruas estreitas do Quartier Latin, Marais e Montmartre. Agora que o tempo está quente e o sol resolveu aparecer pra ficar, todos os dias eu planejo um passeio. Depois da aula, enquanto o Douglas sua a camisa escrevendo a tese, eu e minha amiga tailandesa exploramos a cidade. No final de semana o Doug dá um tempo pro trabalho e é com ele que ponho em prática os longos trajetos.
             No sábado passado fizemos a Promenade Plantée, quase cinco quilômetros de jardins suspensos que vão da praça da Bastilha até o Bois de Vincennes. O jardim foi construído sobre uma antiga linha férrea que parou de funcionar ainda na década de sessenta e, como fica acima do nível da cidade, é tranquilo e silencioso. Apesar das pernas terem sofrido, o passeio foi inesquecível. Que se preparem nossas amigas e amigos que vêm nos visitar em maio. Já estou traçando os mapas. Recomendo trazer um tênis bem confortável.












quinta-feira, 14 de abril de 2011

Belle et Sébastien

            Começamos a semana com mais um show no Grand Rex: “Write about Love” do Belle and Sebastian. Pra quem não conhece, devo avisar que não se trata de uma dupla, mas de uma banda pop escocesa com sete integrantes oficiais e mais alguns músicos contratados. No Grand Rex eles estavam em onze no palco.  O nome da banda vem de um romance francês chamado Belle et Sébastien, que conta a história de um menino chamado Sébastien e do seu cachorro Belle. 
           Eu conhecia só umas três das dezenove músicas que eles tocaram. Na verdade eu fui pro show pra acompanhar o Doug, que é fã da banda. Casal unido tem dessas: é preciso fazer alguns esforços, afinal ele me acompanhará no show do Iron Maiden, “The final frontier”, em junho.  
             Mas, apesar de não ter sido uma escolha minha, eu gostei do show. O público nerd de óculos, gel no cabelo e camisa abotoada até o pescoço dançava e fazia coreografias engraçadas e a banda de multi-instrumentistas conseguiu ganhar mais uma fã. Sem modificações no visual e sem coreografias, é claro.    







domingo, 10 de abril de 2011

Overdose de informação

            Sábado passado conhecemos nossos novos vizinhos de porta aqui da Maison du Brésil. Eles vieram nos visitar para pegar umas dicas sobre cursos de francês. Eu adorei a ideia de poder ajudar, mas o problema é que, quando me dei conta, minha língua tinha se transformado numa metralhadora giratória de informação. Além dos cursos de francês, falei dos teatros, do transporte, dos museus, da comida, da carte de séjour, dos bancos, dos supermercados, da água, do ar, dos franceses... E depois que eles já tinham ido embora, eu ainda bati na porta deles convidando pra irem conosco a algum museu, pois o dia seguinte seria o primeiro domingo do mês e alguns museus teriam entrada gratuita. Só no fim do dia, quando coloquei a cabeça no travesseiro, é que eu percebi o que tinha feito, e fiquei imaginando em que estado havia ficado a cabeça deles. Lembrei dos nossos primeiros dias em Paris, quando tudo era novo e éramos bombardeados por informações e recomendações sobre tudo. Eu ficava o tempo todo tentando colocar ordem nas ideias e fazia listas com todos os entraves burocráticos que deveria cumprir.
           Mas paciência; agora eu já tinha falado tudo. O fato é que eu realmente havia gostado deles; a identificação tinha sido à primeira conversa. Até pelo fato de eles gostarem de música, cinema e literatura, assuntos que se tornaram recorrentes no dia seguinte, que começou com nossa visita ao Musée de la Chasse. Não que eu goste de ver os bichos empalhados, pelo contrário, eu acho uma crueldade, mas como já tínhamos visto a maioria dos museus nacionais aqui de Paris, sugerimos dar uma conferida nesse. Além dos bichos empalhados e uma cabeça de javali que discursa, o museu tem todo tipo de material de caça e também imagens dos habitats das vítimas, com instruções de como reconhecer se determinado animal está por perto.
          Como vimos esse museu rapidinho, tomamos um café e fomos para o Musée de l’Orangerie, que fica dentro do Jardin des Tuileries. Nenhum de nós sabia muito bem do que se tratava, eu não tinha procurado antes na internet e só conhecia o museu de nome, mas tivemos uma ótima surpresa. Logo nas primeiras duas salas, nos deparamos com Les Nymphéas, de Claude Monet, uma obra gigante que foi inspirada nos jardins de água da sua propriedade em Giverny. Impressionante! Eu teria ficado um mês inteiro contemplando todos os detalhes, mas, como o museu fecharia em algumas horas, tivemos que correr para o andar de baixo.
            Ali, então, a vida já era curta pra tanta arte. Como olhar dezoito Cézanne, vinte e três Renoir, vinte e dois Soutine, doze Picasso, dez Matisse, quatro Modigliani, vinte e quatro Derain e mais uma batelada de obras desse nível em apenas algumas horas? Seria impossível processar toda essa informação em tão pouco tempo. É como querer ler os três tomos de Guerra e Paz em três minutos! O que fazer? Dar uma olhada de alguns minutos em cada quadro pra poder ver todos, ou contemplar poética e demoradamente umas poucas pinturas e sacrificar o restante? Oh, dúvida cruel! Optamos pela primeira opção, porém com paradas um pouco mais demoradas nas obras de que mais gostávamos.
           Com isso, quem acabou ficando com a cabeça cheia de informações fui eu. Mas essa multidão de referências me fez perceber o quanto é maravilhoso poder ter acesso a tudo isso e o quanto já estou habituada a ver coisas bonitas. Nossos vizinhos têm ainda um ano pela frente, enquanto o nosso tempo na França já está quase acabando. Só mais dois meses e meio, é muito pouco tempo. Precisaríamos de uma vida inteira para ver com calma todas as obras de arte de Paris.