Flanar: passear sem direção, contemplando a paisagem e as pessoas. Não é coisa pra turista, que anda sempre com pressa, perseguindo o recorde de monumentos por dia de viagem. Flanar é dar o tempo necessário para a cidade e o visitante se conhecerem. Depois de nove meses na França, podemos dizer que, definitivamente, não somos turistas. O último lugar em que iríamos num final de semana seria a Torre Eiffel. Por quê? Porque ela está sempre tomada por turistas e vendedores de todo tipo de muamba que você possa imaginar. Não se pode nem caminhar com tranquilidade. A torre é linda, mas ela fica muito mais charmosa quando você a enxerga das margens do Sena, a pelo menos um quilômetro de distância. Os outros pontos turísticos também estão sempre invadidos, se não por camelôs sem banca, por chineses com suas máquinas superpotentes no pescoço, americanos de chapéu e bermuda laranja, espanhóis e italianos gesticulando e muitos brasileiros de todos os sotaques do país.
Nesse mês de maio recebemos algumas visitas. Todas elas estavam descobrindo a França pela primeira vez, mas tivemos sorte porque nossos hóspedes não bancaram os turistas desesperados: aqueles que tem que ver tudo, estão sempre com pressa e ficam contentes só em bater uma foto em frente ao monumento e já correr pra outro. As nossas visitas, ao contrário, não fizeram exigências e deixaram os trajetos por nossa conta. Isso permitiu que mostrássemos a cidade do nosso jeito. Claro que passamos por alguns pontos turísticos – Paris é cheia deles –, mas foi com calma, com longas paradas nos bancos e jardins públicos para descansar e contemplar a paisagem.
A primeira visita de maio foi o nosso amigo Piccoli. Sem muita combinação prévia, acabamos passando o seu primeiro dia em Paris juntos: tomamos café no Montmartre, passeamos pelo Quartier Latin, e acabamos o dia com uma janta regada a vinho na Maison du Brésil.
Três dias depois, nosso amigo ia embora, mas já era a vez de chegaram a mãe e a irmã do Doug. O maravilhamento da Deise é algo que faz bem pra alma. É muito bom ver um Modigliani com quem fica vários minutos em frente ao quadro, com os olhos brilhando, mas que também não se perturba com interrupções de seus anfitriões querendo saber se um móvel de museu é art déco ou art nouveau. Já a mãe do Doug, mais bucólica, preferia inspirar o perfume das flores dos jardins de Paris.
Com o nosso amigo Juliano não foi diferente. Ele, que passou com a gente os últimos dias de maio, deixou bem claro que não estava interessado em pontos turísticos, então o levamos aos lugares de que mais gostamos em Paris: as estreitas ruas do Marais, as margens do Sena, o Jardim de Luxemburgo e o Quartier Latin. Esses são, certamente, os lugares de Paris em que você mais respira a cidade. Posso dizer que cultivo por eles uma paixão tão intensa que será impossível não sentir saudades.
Flanar por Paris é como reviver as histórias de muitos escritores que passaram por aqui e que registraram suas impressões sobre a cidade-luz; mas receber amigos que vêm com olhar de artista – e não de turista –, e poder mostrar a eles a Paris de que gostamos torna a nossa experiência muito mais inesquecível.