domingo, 10 de abril de 2011

Overdose de informação

            Sábado passado conhecemos nossos novos vizinhos de porta aqui da Maison du Brésil. Eles vieram nos visitar para pegar umas dicas sobre cursos de francês. Eu adorei a ideia de poder ajudar, mas o problema é que, quando me dei conta, minha língua tinha se transformado numa metralhadora giratória de informação. Além dos cursos de francês, falei dos teatros, do transporte, dos museus, da comida, da carte de séjour, dos bancos, dos supermercados, da água, do ar, dos franceses... E depois que eles já tinham ido embora, eu ainda bati na porta deles convidando pra irem conosco a algum museu, pois o dia seguinte seria o primeiro domingo do mês e alguns museus teriam entrada gratuita. Só no fim do dia, quando coloquei a cabeça no travesseiro, é que eu percebi o que tinha feito, e fiquei imaginando em que estado havia ficado a cabeça deles. Lembrei dos nossos primeiros dias em Paris, quando tudo era novo e éramos bombardeados por informações e recomendações sobre tudo. Eu ficava o tempo todo tentando colocar ordem nas ideias e fazia listas com todos os entraves burocráticos que deveria cumprir.
           Mas paciência; agora eu já tinha falado tudo. O fato é que eu realmente havia gostado deles; a identificação tinha sido à primeira conversa. Até pelo fato de eles gostarem de música, cinema e literatura, assuntos que se tornaram recorrentes no dia seguinte, que começou com nossa visita ao Musée de la Chasse. Não que eu goste de ver os bichos empalhados, pelo contrário, eu acho uma crueldade, mas como já tínhamos visto a maioria dos museus nacionais aqui de Paris, sugerimos dar uma conferida nesse. Além dos bichos empalhados e uma cabeça de javali que discursa, o museu tem todo tipo de material de caça e também imagens dos habitats das vítimas, com instruções de como reconhecer se determinado animal está por perto.
          Como vimos esse museu rapidinho, tomamos um café e fomos para o Musée de l’Orangerie, que fica dentro do Jardin des Tuileries. Nenhum de nós sabia muito bem do que se tratava, eu não tinha procurado antes na internet e só conhecia o museu de nome, mas tivemos uma ótima surpresa. Logo nas primeiras duas salas, nos deparamos com Les Nymphéas, de Claude Monet, uma obra gigante que foi inspirada nos jardins de água da sua propriedade em Giverny. Impressionante! Eu teria ficado um mês inteiro contemplando todos os detalhes, mas, como o museu fecharia em algumas horas, tivemos que correr para o andar de baixo.
            Ali, então, a vida já era curta pra tanta arte. Como olhar dezoito Cézanne, vinte e três Renoir, vinte e dois Soutine, doze Picasso, dez Matisse, quatro Modigliani, vinte e quatro Derain e mais uma batelada de obras desse nível em apenas algumas horas? Seria impossível processar toda essa informação em tão pouco tempo. É como querer ler os três tomos de Guerra e Paz em três minutos! O que fazer? Dar uma olhada de alguns minutos em cada quadro pra poder ver todos, ou contemplar poética e demoradamente umas poucas pinturas e sacrificar o restante? Oh, dúvida cruel! Optamos pela primeira opção, porém com paradas um pouco mais demoradas nas obras de que mais gostávamos.
           Com isso, quem acabou ficando com a cabeça cheia de informações fui eu. Mas essa multidão de referências me fez perceber o quanto é maravilhoso poder ter acesso a tudo isso e o quanto já estou habituada a ver coisas bonitas. Nossos vizinhos têm ainda um ano pela frente, enquanto o nosso tempo na França já está quase acabando. Só mais dois meses e meio, é muito pouco tempo. Precisaríamos de uma vida inteira para ver com calma todas as obras de arte de Paris.










2 comentários:

  1. O pessoal aí do lado pode ter tido uma sobrecarga de informação, mas pode continuar escrevendo no blogue, porque daqui em Barbacena, quer dizer, Bento, a coisa continua igual e sem nenhum Renoir, e por isso é muitobom ler esses aperitivos de Paris.

    Aquele Abraço

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  2. Rê!
    Fique tranquila o museu do imigrante está sendo reformado,rsrsrsrsr.

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