terça-feira, 8 de março de 2011

Cidade Medieval

            Para estes últimos quatro meses na França, estamos planejando umas viagens para outras cidades do país. Por isso, sábado acordamos bem cedo e fomos para Provins, 80 quilômetros a sudeste da capital francesa, uma cidade cheia de castelos medievais e inscrita como patrimônio da UNESCO. Ou seja, nada nela pode ser destruído ou modificado sem autorização. Ainda no sábado, enquanto eu fazia o roteiro, o Douglas preparava a mochila que seria nossa única companheira. Eu até reparei que ela estava um pouco gorda, provavelmente atulhada de livros, mas nem dei bola, afinal era ele quem iria carregar.
            Pegamos o TGV, trem que faz os interiores da França. Logo que entramos, vimos que o maquinista estava inspiradíssimo: deu as boas vindas, anunciou o destino, informou a temperatura, e ainda lembrou aos passageiros que domingo seria o dia da vovó e que tínhamos que cuidar bem delas. Foi só o trem sair dos limites de Paris que a paisagem começou a se modificar, e a cidade grande foi sendo substituída por poucas casas e muito campo. Depois de uma hora e meia de viagem, chegamos à pequena Provins.
            Como recepção, uma feira na rua, com frutas, livros e até roupas medievais. Fomos bem recepcionados em todos os lugares dessa cidade que me lembrou os municípios do interior do meu estado, não pela arquitetura medieval, é claro, mas porque todos os nativos pareciam se conhecer: o livreiro conversando com a confeiteira na porta do correio, a mulher da padaria pedindo um saco de açúcar emprestado na mercearia, e coisas assim, que a gente só vê em cidades pequenas. Porém, mesmo com o tamanho miúdo do lugar, eu, como de praxe, havia feito o meu roteiro, que geralmente se baseia em ruas e paisagens interessantes que procuro na internet.
            Ao meio-dia, chegamos a um dos limites da cidade: a Porte de Jouy. Lá, tivemos uma grande surpresa: estávamos sozinhos. Eram as muralhas, os pássaros, e nós; mais ninguém. Subimos num dos mirantes da muralha: de um lado víamos os campos infinitos, do outro os telhados de Provins. Em frente à muralha, encontramos uma mesa de pedra e resolvemos parar um pouco para descansar. A única coisa em mim que estava inquieta era o estômago: estávamos só com o café da manhã. E não é que o Douglas abre a mochila e logo aparecem um cacho de bananas, duas laranjas, um pacote de galetes, outro de bolachas de palmito e uma garrafa d’água? Não eram livros que ele tinha na mochila; era o armário inteiro da cozinha. Perfeito! Me senti numa taberna da Idade Média. Fizemos o lanche bem devagar contemplando aquele cenário que antes eu só tinha visto nos filmes de época. E não tínhamos nenhuma pressa, pois ainda teríamos a tarde inteira para explorar os belos castelos de Provins.
           Como já tínhamos praticamente cumprido todo o meu roteiro, resolvemos visitar o interior de alguns monumentos. O primeiro foi a Torre Cesar, construída no século XII e que fica no alto de um morro. Do seu topo, conseguimos ver toda a cidade, como se fosse uma maquete.
          Depois de ver a cidade de cima, fomos para os subterrâneos. Eu imaginava umas catacombes como as de Paris, ou algo no gênero. Mas nada disso; eram só cavernas, nada de caveiras. Aliás, acho que não foi nem isso que me chateou; o que mais me deixou frustrada nessa visita aos subterrâneos foi a guia obrigatória. Eu odeio guia turístico! Eles não deixam você olhar as obras, pois ficam falando sem parar na frente delas. Quando o guia sai um pouco da frente, e você espicha o pescoço pra ver, o resto da turistada já invadiu o teu campo de visão. Não é legal que alguém fique falando de uma obra. Eu gosto de olhá-la do jeito que eu quiser e como estiver o meu estado de espírito naquele dia. Mas nos subterrâneos o drama foi pior ainda, pois não tinha iluminação exceto a lanterna da guia. Ela iluminava as inscrições nas paredes por cinco segundos e desandava a falar tudo o que eu já tinha lido na internet sobre a cidade. Que tragédia!
           Quando eu já estava subindo pelas paredes subterrâneas de impaciência, ela finalmente se despediu. Nós nem disfarçamos; saímos o mais depressa possível dali direto para a Grange aux Dîmes (fotos no http://cabecastrocadas.blogspot.com/), onde também fomos obrigados a utilizar guias, só que dessa vez eram audioguides, que ainda exigiam que se deixasse um documento de identidade na entrada como garantia de sua devolução. Logo que entrei no lugar e vi as cenas, tive a impressão de que fossem de verdade, mas quando cheguei perto vi que não passavam de bonecos imitando as profissões da Idade Média.
           Pra terminar nossa visita, fomos ao museu da cidade. Muitas obras sobre o período medieval lotavam os seus três andares, desde quadros até objetos e roupas.
           Seis horas da tarde e tínhamos visto tudo o que havíamos planejado e o que não havíamos planejado também. Então, deixamos a cidade rumo a Paris novamente. Essas imagens de Provins nos deram mais vontade ainda de conhecer outros lugares no interior da França. Só tenho certeza de que, seja para onde for a próxima viagem, duas coisas estão proibidas no nosso roteiro: guia humano e audioguide.














4 comentários:

  1. Bah, gosto muito de coisas medievais, castelos, essas coisas. Meu sonho é fazer meu casamento em um castelo :P hehehehe

    Abraços

    ResponderExcluir
  2. Olá Renata! Sou de Natal-RN, e descobri seu blog ao pesquisar sobre como ir de Paris a Provins. Estarei em Paris no dia 03 de abril e desejo ir à cidade em um dia de semana, possivelmente uma quarta-feira. Pelo seu relato, vi que é possível ir de TGV. Posso pegá-lo em qualquer Gare de Paris? Você lembra quanto custa o Ticket? Sabe se tem atrações lá em dias de semana?
    muito obrigada pelas informações e parabéns pelo lindo blog.
    Um abraço,
    Juliska

    ResponderExcluir
  3. Olá, Juliska.

    Que bom saber que estou ajudando de alguma forma, fico feliz. Para ir a Provins você deve pegar o trem na Gare de l'Est. O bilhete custa 21 euros, ida e volta. Durante a semana você vai pegar as mesmas atrações do final de semana, com a vantagem de encarar menos filas. :)

    Espero ter ajudado, se precisar de mais alguma informação, não deixe de me escrever: re_todeschini@yahoo.com.br

    Abraços,

    ResponderExcluir
  4. Olá Renata

    Também encontrei seu blog procurando maneira de ir de Paris a Provins. Identifiquei-me muito com você com relação aos guias, detesto! Aquela pessoa a falar sem parar, você não pode ver nada direito, um horror! Gosto de andar sozinha pela cidade, até me perder, se for o caso, mas guia, pas pour moi, rsrsrs.
    Vou a Paris no próximo dia 31. Passo uma semana em Sévres num seminário e volto pra Paris até o dia 15/06. Penso em ir a Provins num dia de semana.

    ResponderExcluir