Um mês atrás começamos os preparativos para nossa viagem à Itália. Escolhemos Roma e Veneza e reservamos pela internet os hotéis e as passagens mais baratas que apareceram. Sábado, embarcamos pelo aeroporto de Beauvais só com uma mochila cada um, pois a nossa passagem de 15 euros não previa envio de bagagem. Já no avião começamos a entrar no espírito italiano quando a aeromoça chefe apresentou a comissão de bordo: Betina, Albertina, Martina.
Que voo barulhento esse da Ryanair! Um bebê chorando, um velho rabugento reclamando o tempo todo do bambino e as aeromoças que não pararam um segundo de vender coisas: comida, cartão de celular, cigarro, cosméticos, jogo de bingo... Uma hora e meia de algazarra e chegamos a Ciampino, a uns 30 quilômetros de Roma, anunciado no avião com um toque de corneta: sobrevivemos. Logo na saída do aeroporto, pegamos uma discussão em voz alta e baixo nível entre uma senhora e três homens, repletas daqueles palavrões italianos que nós bem conhecemos, e nos sentimos felizes por estarmos em Roma. Depois, vimos uma mulher fazendo sinal e gritando: rápido, rápido que o ônibus vai sair. Era o transporte que nos levaria até o centro da cidade. Sabe quando na França alguém vai ficar te chamando porque o ônibus vai sair?...
Chegamos à estação Termini, onde se cruzam as linhas de metrô da cidade e também de onde partem todos os trens para os arredores. E nós, só com o endereço do hotel, que ficava a uns 10 quilômetros ao sudeste dessa estação. Nossa sorte é que os italianos, diferente dos franceses, adoram dar informação; tem uns que além da informação te acompanham até o lugar onde você precisa chegar. Foi uma dessas almas que nos indicou o trenino, uma espécie de metrô medieval cheio de gente se estapeando amigavelmente. Ele andava tão devagar que eu achei que não chegaria nunca. E já fiquei preocupada: se tivermos que pegar sempre esse trem pra chegar até o centro, vamos perder umas duas horas por dia. Desembarcamos do trenzinho e, depois de mais umas informações, encontramos o hotel. Imaginem a seguinte cena: um hotel na beira de uma rodovia, tendo do lado direito um terreno baldio, do lado esquerdo um circo e na frente um boteco decorado com luzes vermelhas. Chegamos mortos de cansados, mas o recepcionista, todo atrapalhado, ainda demorou pra achar nossa reserva. Pra nossa tranquilidade, o quarto era grande e o banheiro e a cama impecáveis.
Depois de um banho quente, mesmo exaustos, resolvemos aproveitar o resto do dia. Voltamos a recepção. O italiano fez cara feia quando perguntamos se tinha um modo mais rápido de chegarmos até Roma sem ter que usar aquele trenino. Vocês estão a pé? Precisam de transporte público? Depois de resmungar italianamente, ele nos indicou um ônibus que passa em frente ao hotel, linha 558; disse para pararmos na estação Subaugusta e pegarmos o metrô até a estação Termini. Quisemos também saber se era perigoso andar à noite por aquela região desértica com palhaços assassinos – It! – na vizinhança. Ma! Então ele tinha que ouvir os brasileiros achando que na Itália é que tinha assalto...
Depois de um banho quente, mesmo exaustos, resolvemos aproveitar o resto do dia. Voltamos a recepção. O italiano fez cara feia quando perguntamos se tinha um modo mais rápido de chegarmos até Roma sem ter que usar aquele trenino. Vocês estão a pé? Precisam de transporte público? Depois de resmungar italianamente, ele nos indicou um ônibus que passa em frente ao hotel, linha 558; disse para pararmos na estação Subaugusta e pegarmos o metrô até a estação Termini. Quisemos também saber se era perigoso andar à noite por aquela região desértica com palhaços assassinos – It! – na vizinhança. Ma! Então ele tinha que ouvir os brasileiros achando que na Itália é que tinha assalto...
Os italianos são muito engraçados e a grossura deles não nos faz mal como a dos franceses. É uma grossura espontânea e familiar, por isso não consegui ficar chateada com ele. Depois de agradecermos pela informação, testamos a sua dica e, em 40 minutos, estávamos novamente no centro de Roma. Assim, terminamos o sábado sentados em frente à Fontana di Trevi. Che dolce vita!
No segundo dia, acordamos muito cedo, tomamos café no hotel e saímos com o 558, que passa a cada 20 minutos. Fomos ao Fórum Romano, ao Circo Massimo e ao Museo del Risorgimento, que fica dentro do monumento a Vittorio Emanuele. Mas antes, no Coliseu, a peculiar receptividade italiana deu suas provas novamente: fomos perguntar em italiano, para uma funcionária, onde era a entrada do Fórum Romano, e ela, querendo ajudar: Quale lingua?
Diante da pergunta inusitada, pensei: a guardinha é poliglota. Então respondi:
- Português.
- ...
- Francês.
- ...
- Inglês.
- ...
- Espanhol.
- ...
- Italiano.
- Va bene. Siga reto por aquela rua e na próxima você pega a esquerda.
Que língua será que ela fala além de italiano? Tcheco?
Voltando pra casa vimos outra discussão, agora de um casal. Ela andava uns metros a pé xingando a mãe dele. Ele, de carro atrás dela, parava a cada dois metros e abria a porta pra ela entrar. Ela, então, dizia que nunca mais ia falar com ele. Ele, gesticulando muito, implorava: Amore, andiamo. Depois de o carro andar e parar umas seis vezes, ela resolveu entrar, fechando a porta com uma pancada.
Para nós, tudo era divertido. Até porque, por enquanto, não éramos nós que estávamos envolvidos naquela confusão nacional. O que era só uma questão de tempo.