Sexta-feira, estação do metrô lotada de gente apressada. Eu e uma amiga caminhávamos sem nos importar com o empurra-empurra. Estávamos indo para a última aula de phonétique do semestre, felizes da vida. Eu olhava distraída uns cartazes de filme, quando sinto uma coisa roçando a minha perna. Um segundo depois, tive a nítida impressão de que era uma coisa peluda e grande, pois ela encostava também na minha mão. Foi a hora do salto. Voei pra cima da minha colega, que teve que se escorar na parede pra não cair. Hesitei uns segundos a olhar pra frente, mas como não podia ficar ali minha vida toda, resolvi encarar a realidade. Era um cão. Enorme! Seguido por seu dono de cabelos espetados, com fones nos ouvidos, que nem percebeu o que tinha acontecido.
Um cara que vinha atrás de nós não disfarçou: passou ao nosso lado, me olhou e soltou uma gargalhada. Eu olhei pra ele com cara de: O que foi idiota? Garanto que quando você vê uma aranha solta aquele gritinho fino e abana as mãos histericamente na altura do peito!
Ignorei o abestalhado e, vendo que o dócil cãozinho não era nenhum monstro de sete cabeças e que mais animal era o seu dono, que nem se dava o trabalho de desviar das pessoas, continuamos nosso caminho, quando de repente fui privada da minha visão por um balde d’água na cara. Eu estava subindo as escadas em direção às roletas e quase me desequilibrei com a intensidade do jato. Enquanto eu secava a água dos olhos com o casaco e tirava o cabelo escorrido da cara com uma mão, com a outra eu tinha que sacar o cartão do bolso e passar a roleta do metrô antes que a multidão me pisoteasse.
Depois de muita dificuldade e sem saber se a roleta era roleta mesmo ou se era algum portal que me levaria dessa para uma pior, consegui chegar ao outro lado. Pra meu alívio, eu não estava no inferno, a não ser que o cachorro e a minha colega armênia tivessem vindo junto comigo. Desisti dessa segunda hipótese quando vi o trem parado e com as portas abertas: não deve ter essas praticidades no submundo. Na dúvida, deixei minha amiga entrar primeiro. Quando botei o pé pra dentro do trem, vi a big pata do animal a menos de um metro de mim. Recuei, corri uns metros e entrei no outro vagão. Minha amiga, que já estava sentada, levantou e veio atrás de mim, e por pouco não foi prensada na porta que já havia dado o sinal de que iria fechar. Eu me joguei no banco e fiquei tentando entender o que tinha acontecido. De onde tinha vindo toda aquela água? Tirei minhas luvas da bolsa e terminei de me secar, enquanto todo o trem me olhava, inclusive minha amiga, que se sentou no banco da frente. Depois de um longo silencio, ela me perguntou: Passou o susto? Eu balancei a cabeça positivamente, mesmo sem entender nada. Foi então que veio a revelação: Desculpa ter te molhado, mas é que, na Armênia, sempre jogamos água quando uma pessoa leva um susto, pra evitar que ela fique com transtornos mentais...
Hã?
Olhei pra ela com uma vontade absurda de pegá-la pelo pescoço e arremessá-la pela janela do trem. Quando estava criando forças, ela tirou a garrafa de um litro da bolsa e me disse sorrindo: Agora não tenho mais água pra tomar durante o dia, mas estou feliz por ter te ajudado.
Levantei do banco e fui em direção a ela. Calma, eu não matei ninguém! Pelo contrário; eu a abracei, tirei a minha garrafa d’água da bolsa e dei para ela beber. Afinal, graças a seu instinto rápido e sua crença, eu não voltarei para o Brasil com um parafuso a menos.
Que história doida!
ResponderExcluirA forma como tu narrou parece mais ficção do que realidade, um conto, aqueles com final surpreendente.
Quer dizer que as pessoas jogam água na cara assim no mais? ahahaha...Bizarro!
Abraços.
Quem me dera escrever contos! Essa história é a mais transparente, inodora e insípida realidade. Bem na minha cara, no meio do metrô de Paris.
ResponderExcluirBeijos
Rê!
ResponderExcluirGenial!kkkkkkkkk!Estou imaginando a cena, c'est bizarre kkkkkkk, c'est completement fou.
Meu Deus, acho que vou adotar essa tática aqui não Brasil. Mas pensando bem, não iria dar certo, as pessoas não seriam gentil como tu foi...hihihihihi ! Bjs. guria, adoro suas histórias !
ResponderExcluirEla fez isso porque me conhece, queria ver ela fazer com um francês. Ele arranca a cabeça dela na hora ou processa depois..rsrsrs.
ResponderExcluirBeijos Mel. Fico feliz de você estar acompanhando o blog.
Confesso que quando li o título a primeira vez li "tratamento armênico". Mas de qualquer forma, muito bom o texto ehehehe
ResponderExcluirRê, criei um blog e coloquei o teu nos favoritos.
ResponderExcluirVisita lá ;)
http://saidecimadomuro.blogspot.com/
Se fosse lá em Bagé, essa Armênia já tinha perdido o queixo.
ResponderExcluirRe te juro nunca ri tanto ...essa tua amiga é das minhas...só lá mesmo pra acontecer uma dessas hein...e logo contigo....doida....nunca mais esqueço dessa...risos....Guria teu Blog tá mega show.....beijão Viviane Rossignol
ResponderExcluirVivi. Estou publicando esse teu comentario de uma Lanhouse de Roma. Por isso que esta frase nao tem nenhum acento, eu nao encontrei nesse teclado louco. Beijos
ResponderExcluirFANTÁSTICOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO... imagina!!! Cada cultura um aprendizado!!! Mas não venha com ideias malucas de banho pra cá não!!! ahahaha!! Adorei! bjokas sua maluquete!!
ResponderExcluirkkkkkkk
ResponderExcluirEssa foi hilária, Renata, ri muito.
Aliás, preciso dizer que li como se lê um excelente livro, correndo os olhos pra saber logo o que aconteceu e tendo que voltar pra não perder nenhum detalhe.
Concordo com as tuas amigas que deve escrever algo para publicar.
Beijos, Deise Bin