quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Karayôôô

          Depois da última conversação que teve na Maison du Cambodge, o Doug e eu saímos para almoçar na cafeteria da Cite Internationale com um polonês, uma chinesa e um argentino. A maioria das pessoas com a qual nos relacionamos aqui em Paris é de estrangeiros que estão de passagem, menos o polonês, que se apaixonou tanto pela cidade que pretende morar aqui pro resto da vida. Surgiu então o assunto de qual seria a melhor cidade do mundo para se morar. Os nossos amigos da mesa, que são muito mais viajados que nós, citaram várias cidades que poderiam entrar na lista. Como eu nunca morei em outro lugar além de Bento e Paris, votei em Paris.
            Passado o almoço, fomos para casa e achamos que seria interessante convidar o argentino Gonzalo e uma japonesa amiga minha, a Anna Konishi, para jantarem conosco. Liguei para os dois: o Gonzalo confirmou e a Anna avisou que chegaria mais tarde. Preparei uma massa com champignon e muito queijo, compramos uns vinhos bons e baratos e, às oito horas, o argentino chegou. Ele é um muito divertido e inteligente. Como estuda regência e composição e é chefe de orquestra em Córdoba, ficamos conversando sobre música numa mistura de francês, espanhol e português, mas que todos entendiam. Quando não sabíamos alguma palavra em francês, falávamos em português ou espanhol e tava tudo certo. Gonzalo deu a ideia de inventarmos as palavras que não sabíamos, um novo francês que serviria só pra nós. Achamos uma boa ideia e começamos a brincar com as palavras.  
           Já no final da janta chegou a minha amiga japonesa. Ela trouxe uma amiga e mais uma garrafa de vinho. Dali em diante nosso francês teve que melhorar e tivemos que abandonar de vez o portunhol. Ficamos até as duas da manhã conversando, rindo, bebendo vinho e escutando música. As japonesas gostam muito de bossa nova; a Moeko até solfejou “Wave”!
            Um assunto que sempre rola nas conversas entre estrangeiros é as diferenças entre as culturas. No Japão, por exemplo, as pessoas nunca se beijam ao se cumprimentarem. E o argentino achou estranho eu servir tomate como acompanhamento para a massa. Explicar o que era feijão foi outra dificuldade: tive que mostrar uma foto na internet. Mas aprendemos a contar até cinco em japonês, e descobrimos que as palavras issei, nissei e sansei vêm dos números 1-2-3 (ichi, ni, san).
       Por causa do nome do nosso amigo argentino, o Douglas começou a contar a história de São Gonçalo em francês: o porquê de o santo ser o padroeiro dos musicistas. Só que quando chegou na parte de explicar que as prostitutas passavam a noite toda escutando a música de São Gonçalo e por isso seu corpo ficava puro para Deus, a história parou, pois ele não sabia como se dizia prostituta em francês. Foi uma luta com as palavras até eu fazer todos entenderem dizendo que eram as “femmes de la vie”.
           A história parou pela metade e o argentino aproveitou a deixa para ensinar as japonesas a falar palavrões em português com sotaque espanhol. Elas, sem saber o que significavam, ficavam repetindo cinquenta vezes pra praticar a pronúncia. Ainda lembraram de um jingle de uma marca japonesa que parecia com uma palavra que elas recém tinham aprendido e começaram a cantar: Karayôôô... Karayôôô... Eu dizia pra elas não falarem aquilo, pois era muito feio. Elas botavam a mão na boca, mas logo esqueciam e começavam a cantar de novo.
         Depois de quatro garrafas de vinho, nossos amigos voltaram para a Maison du Japon, onde todos moram, inclusive o argentino. O Doug, que tinha bebido bastante, dormiu em seguida. Eu ainda fiquei um tempo acordada, lembrando dos assuntos da noite e rindo sozinha. Na próxima janta, a comida será japonesa, pois a Anna já fez o convite. Só espero que até lá o nosso francês melhore, assim o Douglas poderá terminar de contar a história de São Gonçalo.

2 comentários:

  1. Rê e Douglas!!!
    C'est facile..des putes, des prostituées; e lembram do Moulin Rouge? (lembra da foto Douglas kkkk), des courtisanes e ainda "faire le trottoir".
    Acho que ajudou.
    Dupla que saudades de vcs, BEIJOS

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  2. Rô, obrigada pelas palavras. Usarei quando eu não for bem atendida em algum restaurante, nem que seja baixinho para aliviar minha raiva....hhahahaha

    Muitas saudades!

    Beijão

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