quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Arigatô

          Sexta-feira nossa “soireé” foi incrível! Minha amiga Anna Konishi nos convidou para jantarmos na “Maison du Japon”. Minha identificação com os orientais aumentou ainda mais depois desse encontro. Eles falam baixo, não fazem alarde, são organizados, mas nem por isso deixam de ser receptivos e simpáticos. Eu os adoro!
           Éramos quinze pessoas mais ou menos, na sua maioria de japoneses, mas também tinha uma italiana, uma francesa, uma sueca que mora na Áustria, um tunisiano e o nosso amigo Gonzalo, que conhecemos aqui na França, mas que é tão gente boa que parece que é nosso amigo há vinte anos.
          Entre um sushi e outro, que estavam uma delícia, acompanhados de um saquê tão doce quanto perigoso, e no meio de tanto japonês, me lembrei de uma hipótese da qual ouvi falar uma vez: de que o “arigatô” dos japoneses tem origem do “obrigado” de Portugal. O Gonzalo me olhou com uma cara estranha e, duvidando, foi perguntar para um japonês. O japonês disse que não sabia da história, que era pouco provável, e ainda explicou que arigatô vem de uma palavra em japonês “arigatashi” que em português significa “raro”, “muito especial”. Mas depois ele explicou que algumas palavras do japonês vêm realmente do português, pois os portugueses e os espanhóis foram os primeiros europeus a aportarem no Japão e que, por exemplo, a palavra japonesa “boro” vem da palavra em português bolo.
          O Gonzalo, sempre espirituoso e aproveitando do fato de que eu estava errada, resolveu, então, tirar um sarro da minha cara: disse que ele também tinha ouvido falar que a bandeira do Japão era inspirada na bandeira da Argentina, pois aquela bola vermelha era realmente muito parecida com o sol. O japonês só ria. Ele devia estar pensando: esses sul-americanos são muito esquisitos!        
          Uma coisa que percebemos foi que, em um mês, o nosso francês melhorou dinossauricamente e podemos dizer com orgulho que, nessa festa, nenhuma história ficou sem um final por falta de vocabulário. Praticamente não usamos o portunhol, salvo uma hora em que o argentino perguntou o que significava “vai embora” em português. Explicamos que essa expressão é usada quando queremos que uma pessoa desapareça da nossa frente.
          Na saída, a Moeko nos mostrou o seu quarto. Ao contrário dos apartamentos compactos japoneses que vemos na tevê, os quartos da Maison du Japon são bem espaçosos, têm estante pra colocar muitos livros repletos de ideogramas e paredes de uma sobriedade que nos fizeram lamentar o colorido dos quartos da Maison du Brésil. Depois, junto com o Gonzalo, nossa amiga nos levou até o acesso a um outro corredor. Eu já ia abrindo a porta, quando o Gonzalo se pôs na nossa frente.  Eu disse que era bom mesmo ele abrir, pois assim nós voltaríamos mais vezes. Essa superstição ele não conhecia, mas, quando estávamos no fim do corredor, chegando na porta da saída, ele nos chamou e pediu para esperarmos. Então, veio correndo abrir a porta pra nós voltarmos mais vezes e, mostrando que já é um bom aluno de português, fez os últimos cumprimentos: vai embora!







Um comentário:

  1. Grandes figuras a Moeko, a Anna, o Gonzalo, o sushi e o saquê. E os outros japoneses também: simpáticos, respeitosos e interessados na comunicação, sem os exageros de ter que viajar junto ou montar um bloco de carnaval. Essa festa estava ótima: gente interessante, comida boa, luzes acesas, som num volume audível e muita conversa em francês. Bem melhor que as boates ensurdecedoras que abundam em outras casas da Cité. Lembrei de uma música que o Ultraje a Rigor gravou com o Tonico e Tinoco: "vamos esquecer o inglês, vamos virar japonês, japa, japa". Acho que nós já nascemos estrangeiros no Brasil; descobrimos na França que somos orientais.
    Da próxima vez coloca mais fotos da autora do blog.
    Beijos, meu amorzinho.

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