No início de outubro, passando pelo saguão do prédio principal da Cidade Universitária, vi um folder do “Chorale de la Cité Internationale”. Já fiquei eufórica e disse pro Doug: tenho que cantar nesse coro. Anotei o dia dos testes e fui com a voz e a coragem enfrentar o maestro. O teste consistia em solfejar umas notas e também uma melodia que ele tocava no piano, cantar uma música da minha escolha, ler um pedaço de uma partitura batendo palmas e descobrir o tempo dela. Ufa! Graças às minhas aulas de teoria musical, eu consegui.
Na metade de outubro eu já estava frequentando as “répétitions”. O primeiro dia foi pra matar. Me deparei com umas 80 pessoas, certamente de mais de 15 nacionalidades. O maestro mandou a gente pegar uma dezena de partituras em cima de uma mesa, e já começou o ensaio. Fez um pequeno aquecimento e, voilà, deu ordens para o pianista assistente começar as músicas. Eu estranhei um pouco, pois estava acostumada a ouvir a melodia no piano antes e o maestro passar separadamente todos os naipes. Aqui não; se canta em coral, tem que saber ler partitura e já sair cantando. No primeiro ensaio, eu me assustei um pouco, mas, no segundo, eu já estava adaptada ao método do maestro.
O maestro é ítalo-americano, mas com um jeito muito mais ítalo do que americano: fala alto, gesticula e fala muitas línguas. Não que seja poliglota no sentido literal do termo; é que ele fala francês, inglês e italiano, tudo junto, numa mistura que tem que ficar com os ouvidos ligados pra entender.
Além da língua que só o maestro fala, eu tive que aprender a pronúncia do russo, do polonês, do árabe e do alemão, que são as línguas em que cantamos, além do francês, do italiano, do espanhol e do inglês, que, em comparação com as primeiras, são fichinha.
Sábado, dia 11, fizemos a nossa primeira apresentação. Eu estava um pouco apreensiva, pois tínhamos ensaiado somente um mês e meio. Porém, o maestro fez milagre, e o concerto foi maravilhoso. Cantamos 13 músicas nas 8 línguas diferentes. Um violoncelista francês e um pianista taiwanês muito bons nos acompanharam. O salão Honnorat lotou e o público fez muito barulho. Teve até um momento em que o maestro fez um solo vocal, o coral de 60 vozes entrou no refrão, e eu senti o palco e o coração tremerem. Como o bis já estava incluso nas músicas e os aplausos não cessavam, tivemos que repetir um dos números. Eu estava muito feliz de estar ali, e enquanto cantávamos o bis, eu esqueci da partitura e comecei a lembrar das pessoas dos corais pelos quais passei. Como eu queria que todos estivessem ali vivendo aquele momento comigo!
Desci do palco em estado de êxtase e logo encontrei o meu amado e a Moeko. Os dois foram os meus fotógrafos. Depois da apresentação, fomos nós três e a Anna conversar e beber no Quartier Latin.
Descobri que os corais são parecidos em todo o mundo: o figurino de Natal é preto e vermelho, o maestro é sempre uma figura, o coro começa com um certo número de cantores e, no dia da apresentação, só tem um pouco mais da metade. E, apesar de você achar que as coisas ainda não estão prontas, sempre vai ter alguém na plateia que vai chorar.
Dedico este texto, as fotos, o meu carinho e Paris à maestrina e aos maestros da minha vida: Cibele Tedesco, Martin Altevogt, Juliano Volpato e Ivan Montanha.
Vídeos:
Rê... tu me fizeste pensar... aqui é uma briga até para cantar inglês (como tu bens sabes)!
ResponderExcluirOi Renata.
ResponderExcluirMuito bom esse coral.
Um coral de músicos.
Vai ser difícil voltar pra Bento, hein?
Muito legal Rê...Tua iniciativa de participar foi mesmo corajosa!
ResponderExcluirTo acompanhando o blog, mesmo não comentando fico aqui me divertindo com os relatos.
Concordo com o Juliano, acho que vai ser difícil voltar e se adaptar novamente a vida na Cocanha.
Muito bom Renata !!!
ResponderExcluirUm mês e meio de ensaio e o trabalho já está bem adiantado .
Parece que vocês cantam juntos a um bom tempo .
Abraços
Olá!
ResponderExcluirAgora postei todas as músicas. Um baixo do coro fez uma gravação impecável.
Beijos
Que emocionante. Rê, obrigada por compartilhar este momento tão lindo...Ta vie elle ne sera plus la même ,nous en sommes sûr.
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