domingo, 19 de dezembro de 2010

Artistas do metrô

            É muito comum aqui em Paris ver artistas se apresentando no metrô. Dentro do trem ou nas estações. Já vi coisas belíssimas, como uma violoncelista tocando Mozart no Porte de Maillot e uma senhora tocando harpa sentada no chão.
            Claro que tem aqueles que dão vontade de tapar os ouvidos. Tem um rapaz, que vejo seguidamente, que entra sempre numa estação depois da minha. Como desafina aquela criatura! E, pra agravar ainda mais a situação, ele não toca nenhum instrumento, mas canta em cima de uma trilha que sai de uma geringonça estranha e enorme, a qual, além do incômodo auditivo, fica atrapalhando os transeuntes. Duvido que o que ele ganha dê pra pagar almoço e janta.
           Os acordeonistas geralmente são bons, mas são os campeões em escolher músicas chatas, aquelas músicas que todo mundo conhece. Um exemplo é a canção popular russa Dorogoy Dlinnoyu. Que música pegajosa! E eu, sendo brasileira, ainda tenho o agravante de lembrar da versão silviossantista: “Pedro de Lara, lá lalalalá lalá, lalalalá, lalá lalá lalááá” Que merde!
          Tem também aqueles que assustam você. Um dia eu tava indo pro meu curso de francês bem distraída, lendo o Direct Matin, quando uma mulher entrou na estação Denfert-Rochereau. Eu nem dei pela presença dela, até que a mesma começou a cantar uma ópera com o volume no 150. Quase caí do banco de susto. Tudo bem que ela tenha que cantar alto pra todo o trem escutar, e assim poder ganhar mais dinheiro, mas pra mim, que estava bem ao lado, foi insuportável ficar ali. Desci na próxima estação e esperei o trem seguinte.  
          Hoje, na volta do nosso passeio pela neve parisiense, vimos, não um artista, mas uma orquestra de câmera inteira. Eles estavam num dos corredores da estação Châtelet Les Halles, uma das maiores e mais movimentadas de Paris. Algumas pessoas que passavam começaram a se aglomerar para ver o espetáculo. Outras, com pressa, passavam sem dar crédito. Ficamos uns dez minutos ali curtindo o show e ouvindo o estalar das moedas que caíam aos punhados no case do violoncelo aberto no chão. Ainda bem que eles tiveram a ideia de abrir o case do violoncelo, porque no do violino não caberia tanto dinheiro.
           Ou seja, tem tanta gente tocando no metrô de Paris que, pra ganhar dinheiro como músico por aqui, não basta ser bom; também é preciso impressionar.



Nenhum comentário:

Postar um comentário