segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Virada

          Resolvemos passar a virada de ano às margens do Sena, num lugar que desse pra ver a torre e os fogos de artifício. Preparei nossa ceia de ano novo, jantamos e já tomamos a champagne, pois no site de Paris dizia que haveria guardas barrando a entrada de pessoas com garrafas nas redondezas dos pontos turísticos. Nos últimos anos, muita gente se machucou por causa dos vândalos que quebram garrafa só pra escutar o barulho. Saímos de casa às 11 horas. Todo o transporte público de Paris, do dia 31 às 5 da tarde até o dia 1º de janeiro ao meio-dia era de graça, então já prevíamos bastante gente.
         Sugeri ao Doug pararmos com o RER B na Notre-Dame e caminhar pelo Sena a pé até avistar a torre, pois a linha 6, que dá direto nela, deveria estar atrolhada de gente. Dentro do trem, já vimos que a noite seria agitada: as pessoas estavam gritando histericamente. Quando descemos na Notre-Dame já era 11:20. Pegamos a Rive Gauche e seguimos por ela. Passamos a Pont Neuf, a Pont des Arts, a Pont du Carrousel. Comecei a ficar preocupada com a hora: Que horas são, Doug?  
           - 11:40. Será que vai dar tempo?
           - Vai sim, só vamos apressar um pouco o passo. Apertamos as mãos e começamos a ultrapassar as pessoas que pareciam sem pressa alguma. Aliás, que gente esquisita! Enquanto corríamos para não perder a virada na torre, não pude deixar de reparar em algumas coisas bizarras, como uma senhora com casaco de pele e na cabeça orelhas de coelho iluminadas, duas moças com chapéu de aniversário de criança e gente berrando. Nossa, como berravam! Eu achei que isso era coisa de carnaval na colônia; nunca pensei que fosse ver isso em Paris. Enfim, enquanto analisávamos os modelitos nada fashion, passamos a Pont Royal, o Musée d’Orsay, a Pont de la Concorde. O Douglas olha para o outro lado do rio, vê a roda gigante e fica preocupado:
           - Aquela não é a roda gigante que está no final da Champs Élysées? Tem certeza de que estamos no caminho certo?
           - Sim, amor, olha lá o Grand Palais. Pertinho tem a Pont Alexandre III; de lá a gente já consegue ver a torre. Que horas são?
           - 11:45.
           Quando íamos atravessar mais uma avenida, o sinal fechou. E como demoram para abrir os sinais de pedestre aqui em Paris. Nessa noite, parece que demorou mais ainda. Quando abriu, seguimos correndo pelas margens do Sena: tínhamos que chegar até a torre. Afinal eu tinha dado aquela ideia de parar tão longe, e agora precisávamos correr para chegar a tempo. Passamos pela Assembleia Nacional e chegamos à Pont Alexandre III, a mais linda de todas. Desse ponto, realmente dava pra ver a torre, mas resolvemos chegar mais perto dela. Caminhamos mais uns minutos e paramos na Pont de l’Alma. O Doug olhou pro relógio e disse que já era meia-noite.
           -  O teu relógio deve estar adiantado.
           A torre estava só com a iluminação de costume. Muitas pessoas por ali, mas nenhum sinal de contagem regressiva. Esperamos mais uns minutos e...
           - Olha, a torre está piscando!
           - Oba, vou filmar agora pra não perder a virada.
           Terminei o vídeo e nos abraçamos. Não importava se já era meia-noite. Estávamos em Paris!  Depois de longos abraços, olhamos para a torre, e ela já tinha voltado ao normal.
           Enquanto esperávamos os fogos e a contagem regressiva, resolvemos andar mais um pouco e chegar mais perto. Só que, nisso, nos deparamos com uma multidão caminhando e gritando em direção ao metrô. Então chegamos à conclusão de que não haveria fogos nem contagem regressiva. Nosso abraço tinha sido na hora certa, porque 2011 já tinha começado. Demos meia volta e marchamos com o povo. Paramos num dos muros do Sena e ficamos olhando os barcos iluminados passando. Meia-noite e dez, pra nossa surpresa, vimos três fogos de artifício. Três! Meu pai sozinho, armado de uma garrafa pet com cal dentro faz mais barulho que toda essa gente.  
         Meia-noite e meia resolvemos ir para casa e tomar a sobra da champagne. Rindo, é claro, da nossa maratona de quilômetros para ver a torre piscando por três minutos, dos franceses que usam enfeites natalinos no réveillon, da falta de fogos que faz com que as pessoas gritem mais alto ainda, mas felizes, por estarmos em Paris, por nos darmos tão bem e também por ter descoberto que o réveillon no litoral gaúcho não é tão mau assim.

2 comentários:

  1. Rê! Tb me assustei com as pessoas no metrô, não quis nem passar perto da Torre pois soube da baderna do povo nas ruas e da proibição dos fogos por causa de atentados. Passei numa galeria com uns amigos e quando eu e Chris voltamos, ainda era cedo, e confesso que fiquei com medo da forma como as pessoas estavam enlouquecidas no metrô!
    Bjs, saudades de vcs!

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  2. Oi, Rê!!!! Estive em Paris, como vc sabe, passei a virada em Lua de Mel encantada e feliz da vida com tudo!!! Muito obrigada por todas as dicas preciosas!! tenho que confessar: no primeiro dia de metrê, nos perdemos, mas depois, pegamos o jeito! hehehehehe!
    Amei tudo, cada detalhe! pena que são muitas coisas para ver em pouquíssimo tempo!
    E nós não imaginávamos que aí amanheceria tão tarde!! Era fácil ficar mais tempo na cama quentinha!
    Foi tudo maravilhoso! Estivemos nessa feira da Champs Élysées também, tomamos o que chamo de "quentão francês" e andamos muuuuuuito! Mas ainda tinha muito a percorrer. Fica para a próxima! Agora já estamos de volta, sob o sol beeeem quente de Salvador e satisfeitíssimos com a escolha que fizemos para nossa lua de mel! A de vocês durará 10 meses!! rs!!

    Beijo grande! Feliz 2011 em Paris!! Espero continuarmos em contato!

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