segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Anos de expectativa

           Escrito em junho de 2010
   
          O Doug estava no segundo ano do doutorado, maio de 2008, quando a orientadora dele deu a ideia de tentar uma bolsa "doutorado sandwich" em Paris, na Université de la Sorbonne Nouvelle (Paris III). Eu levei um susto quando ele chegou em casa e me intimou para ir com ele. Eram duas as opções de bolsa: CAPES – 4 meses, CNPq – 10 meses. A minha primeira reação foi de uma felicidade infantil. A segunda reação foi desespero com pitadas de neuroses do tipo: Vou largar tudo, será? E o emprego de uma década? Será que não consigo negociar uns dois meses de dispensa e voltar para o meu posto? E o apartamento? E a família? A terceira reação foi: Claro que vou largar tudo. Por onde começo? Bom, vamos com calma, me disse o Doug, eu tenho que conseguir a bolsa primeiro.
          A essas alturas eu já tinha contado a novidade para metade da cidade, e isso só me fez ficar mais ansiosa. E se a bolsa não sair? Já arrumei a minha mala imaginária, já gritei aos quatro ventos que vou viajar.
          Depois de um ano e meio de espera, saiu o resultado da CAPES, a bolsa que achávamos que era mais garantida: NEGATIVO. Meu mundo caiu! Eu fiquei todo este tempo na expectativa e levei um balde de água gelada na cabeça. Não comecei nada novo pra não ter que parar no meio do caminho. Se pelo menos eu tivesse segurado a língua dentro dos dentes, estaria um pouco menos frustrada. O Douglas é mais contido: só contou pra família e para alguns amigos mais próximos. Depois da queda, fiquei mais prudente também e, para os que me perguntavam da tal viagem, eu respondia: Tu vê, temos que esperar, é difícil conseguir a bolsa, não é bem assim, não temos ainda certeza se vamos, blá, blá, blá... Que mico! 
           Mas nem tudo estava perdido: ainda tínhamos o processo da bolsa do CNPq. No mês de maio de 2010, dois anos depois da ideia ter surgido, saiu o segundo resultado. Eu estava trabalhando e a telefonista me disse: seu marido na linha. Fiquei preocupada, somos casados há três anos e ele nunca me ligou no trabalho; deve ter acontecido uma coisa muito grave. Mas aí, tentando camuflar a felicidade da sua voz, ele me dá a notícia: Pode arrumar as malas, mon amour, agora são 10 meses na França e não vale desistir.

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