quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O resgate do chocolate

 Hoje à tarde eu deixei o Douglas em casa traduzindo o seu projeto de tese e fui até a biblioteca da Cité estudar francês. Fiquei umas duas horas lá, depois saí e passei no supermercado. Eu estava sem pressa alguma, então fiquei olhando todas as prateleiras, estudando os produtos e pesquisando os preços. De repente,  me bateu uma felicidade, não me contive e comecei a rir sozinha. Quando eu iria imaginar que, numa quarta-feira, às quatro horas da tarde, eu estaria passeando num supermercado de Paris, sem outros compromissos para o dia, sem pressa de chegar a lugar algum, sem ninguém pra me cobrar coisa alguma. Fiquei curtindo a minha felicidade enquanto pacientemente tentava encontrar o creme de leite.  
 Comprei várias coisas para o jantar e também um chocolate para adoçar mais ainda o dia.  Depois de mais de meia hora, me dirigi ao caixa. Aqui na França não existe o empacotador. Você deve colocar as compras no caixa (sempre tire da cesta, porque eles jamais farão isso por você), correr para o outro lado, pagar e empacotar tudo, bem rápido, antes que o próximo cliente te olhe com cara feia. Fiz todo o procedimento em tempo recorde, pois tinha uns dois clientes atrás de mim, e voltei para casa saltitante.
 Quando cheguei, o Douglas, como sempre, me beijou e correu para as sacolas pra ver o que eu tinha comprado . Eu já me antecipei e disse: comprei um chocolate que deve ser uma delícia. Ele desembalou todas as compras e falou: que chocolate? Não tem nada aqui.
 Como não? Eu comprei, tenho certeza. – Olhei na notinha e lá estava ele: Tab. Chocolat au lait.........1,50. Mas revirei as sacolas e não o encontrei. – Naquela pressa de empacotar, acabei esquecendo no caixa o meu chocolate, só pode ser. E agora, Doug? Vem comigo ver se por sorte ainda está lá. – Ele aceitou, mas tínhamos dois problemas: 1º) A próxima pessoa poderia muito bem ter empacotado junto com as suas compras (a moça do caixa não iria nem perceber);  2º) O mico! E em francês.
 Chegamos ao “Marché Franprix”, e cadê a caixa que me atendeu? Nem sinal da mulher. O caixa estava vazio e sem o meu chocolate. Outro caixa estava funcionando com um rapaz atendendo, que tinha uns quatro ou cinco clientes na fila. Não quisemos passar vergonha com tanto público, então resolvemos entrar no supermercado e procurar a moça. Dessa vez, eu estava com toda pressa do mundo e nem um pouco feliz. Caminhamos de um lado pro outro e nada. Quando estávamos saindo desanimados do mercado, a moça surgiu de uma porta imperceptível. Já abordei: S’il vous plaît. J’ai acheté un chocolat et  je pense que je me suis oublié ici.  – Ela sorriu simpática e foi correndo pegar meu chocolate que ela tinha guardado debaixo do caixa em que trabalha. – Merci beaucoup, eu respondi com a boca nas orelhas.
 É incrível como temos sorte em recuperar itens perdidos. Enquanto escrevo este post, saboreio um chocolate francês. E é uma delícia!

Um comentário:

  1. Adorei! Acredita que ontem, por sorte, também recuperei o cartão do quarto que eu havia perdido? estava lá na cafeteria na Maison Internacionale onde fui encontrar meu orientador. Mágico, isso!!!! =)

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