domingo, 12 de setembro de 2010

Paris é uma rave

Ontem decidimos fazer um passeio mais parisiense e menos turístico. Caminhamos pelas margens do Sena, bem devagar e com paradas para descansar e curtir a paisagem. Tentamos dar uma espiada no Louvre, mas foi impossível.  Ele estava tomado de turistas e uma fila gigantesca para entrar.   Continuamos nosso caminho pelo Sena, passamos pela Pont Neuf, a Pont des Arts (forrada de cadeados que os amantes perduram para selar o amor) e, entre outras, a ponte Alexandre III, que é uma verdadeira obra de arte. Nas margens do Sena tinha pouca gente por ser um domingo de sol: alguns casais namorando, alguns senhores dando milho aos pombos e um homem-banda tocando Be-Bop-A-Lula debaixo de uma das pontes.
Quando sentimos fome, estávamos pertinho da Torre. Decidimos parar pra comer, mas ali perto não tem muitas opções, a não ser aquelas carrocinhas que cobram preço de caviar as baguetes com molho. Rodamos até achar um barzinho que parecia ser simpático. O dono estava pendurando umas bandeirinhas de vários países, inclusive a do Brasil . Resolvemos entrar, e descobrimos por que todas aquelas bandeiras. Pedimos um panini italiano, feito à moda americana por uma cozinheira árabe que falava francês. No rádio tocava Shakira e, além de nós, tinha dois índios e dois coreanos comendo.  
Depois daquela refeição globalizada, seguimos nossa caminhada até a Torre e lá encontramos uma multidão de gente. Por todo lugar.  Os arredores da Torre estavam tomados por turistas de todo o mundo, africanos vendendo minitorres, bolsas e água, peruanos tocando e fazendo performances (isso tem na Via Del Vino também) e mais uma infinidade de coisas que poluíam aquele lugar de tal forma que eu comecei a me sentir mal. Então, seguimos rumo ao metrô para procurar um lugar mais calmo.
                Igreja de Sacre Coeur, eu disse pro Douglas, lembra que teu médico falou que era um lugar maravilhoso, que dava pra ver a cidade toda? Deve ser uma maravilha. Já fiquei imaginando: uma igreja no alto de uma montanha, com um gramado enorme ao redor, meu amado e eu sentados debaixo de uma árvore vendo o pôr-do-sol sobre Paris.
                Não podíamos perder tempo, pois já eram 5 horas. Pegamos o metrô em direção ao Château Rouge. Com o mapa na mão, vimos que nosso destino ficava a um quilômetro no máximo da saída do metrô. Mas, na chegada, eu levei um susto. Não parecia Paris. Um monte de gente gritando na rua, um guarda dando instruções às pessoas para que lado ir, gente vendendo milho, espetinho de gato. Por um momento achei que tinha sido teletransportada para algum outro lugar bem longe do Primeiro Mundo. Passando aquela multidão, começamos a achar as ruas que nos levariam até o nosso paraíso. Eram morros e escadas enormes. Depois descobri que era um bairro africano de Paris – aqui, muitos imigrantes sobrevivem vendendo souvenirs e comida na rua –, e que era o horário em que as pessoas estavam chegando do trabalho e congestionando as ruas.
                Subimos uma escadaria gigante e já começamos a ver o topo da igreja. Eu subia rápido, pois estava ansiosa para chegar naquele lugar e fugir da turba. Quando chegamos ao topo da escadaria eu quase caí de costas: outra multidão!  Não sei estimar, mas certamente mais de 1000 pessoas. Na frente da igreja, um pessoal fazendo uma performance de rap misturado com algum ritmo estranho e um povo ao redor gritando e batendo palmas. Na escadaria e no gramado em frente à igreja, mais um monte de gente assistindo um americano de camisa rosa e chapéu de malandro que executava (duplo sentido) sucessos do pop internacional e clássicos da canção francesa
Decidimos procurar algum lugarzinho pra ver o pôr-do-sol com mais tranquilidade, mas não achamos. O lugar que tinha menos gente, não dava pra enxergar nada. Tentamos entrar na igreja pra encontrar um pouco de paz. Pra nosso novo espanto, descobrimos  que lá dentro rola um comércio de velas e umas maquininhas parecidas com fliperama. Você coloca uma moeda e cai uma medalhinha de santo. Imaginem a cena: o padre rezando a missa e, de repente, plim, plim: barulho de cassino no meio da celebração. Fiquei chocada com o que vi.  Saímos da igreja e, como última esperança, buscamos um lugar mais alto e que pudéssemos escalar pra fugir daquele circo dos horrores. Só achamos uma rua, bem ao lado do santuário. Camelódromo, este é o nome no Brasil. Aqui em Paris, ainda não sei como chamam. Vocês podem imaginar que tem de chaveiros até quadros, porém a coisa mais bizarra que vi foi uma camiseta estampada com a igreja de Sacre Coeur, a Marilyn Monron, a Torre Eiffel e o Moulin Rouge, tudo junto, na mesma camiseta.  Depois dessa, decidimos voltar para casa. Passamos novamente pelo Château Rouge, entramos no metrô e atravessamos a cidade até a Cité Universitaire.
                Mas que tragédia! O que salvou nosso passeio foi a caminhada pelo Sena. Não temos dúvidas que nossos próximos passeios pelos pontos turísticos da cidade serão durante a semana. Aos sábados e domingos, o melhor passeio em Paris é algum parque desconhecido ou então um cineminha.   
O homem banda
Sacre Coeur 


Um comentário:

  1. O bom de viajar é isso: descobrimos que a estupidez é universal.

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