segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Kit Porco Zio

          
            Durante a nossa estada em São Paulo, ficamos hospedados na casa de uns amigos gaúchos que moram entre a Liberdade e a Aclimação: a Aline e o Rafael. Eu entrei em contato com ela dizendo que teria que ir a Sampa para encaminhar o visto. Ela, sempre muito parceira e amiga, logo me ofereceu abrigo no seu aconchegante apartamento. Fiquei muito feliz com a ideia e já pedi para ela fazer os cálculos de quanto iria dar a hospedagem. Ela, com aquele jeito brincalhão respondeu: Imagina, não vou te cobrar nada, só te peço uma coisa: traz um queijo e um salame de colônia, e também um pouco de vinagre pra mim. Tu tá brincando comigo, Aline? Não, disse ela; por favor, estamos sentindo muita falta disso aqui.
            Percebendo que ela não estava brincando, eu já pensei: como vou levar esses artigos fedorentos para São Paulo? Na minha mala é que não. Mas não podia negar um pedido da amiga de anos de cumplicidade, de quem até cantei no casamento. Então, preparei uma caixinha de papelão, enrolei com muito plástico-bolha os artigos que a minha supermãe conseguiu para mim e acomodei-os na caixa, que apelidei carinhosamente de "KIT PORCO ZIO". Já tinha planejado tudo. Iria despachar como bagagem e, a qualquer sinal de problema, fingiria que não era minha.
            A mulher do check-in viu os adesivos que botei, escrito: "FRÁGIL" (péssima ideia) e perguntou o que havia dentro. Eu, com naturalidade, afirmei que era comida e que coloquei o adesivo pois tinha uma minigarrafa de vinho também. Não posso despachar assim, ela disse, você vai ter que colocar numa embalagem especial. Só que a tal embalagem sugerida devia custar mais do que o que tinha dentro do nosso kit, e ainda teríamos que enfrentar uma nova fila. Então eu insisti: Não, é uma garrafa muito pequena (mentira, era uma garrafa de 600 ml) e mostrei com a mão, como se tivesse uns 6 centímetros no máximo, e eu embalei ela com muito plástico bolha. Mesmo que caia de um prédio de 10 andares (que frase infeliz), não vai quebrar. A moça hesitou um pouco, mas deixou passar.
            Confesso que, durante a viagem, eu imaginei aquela garrafa quebrando e espalhando o fartum do seu conteúdo por todo o avião. Na hora de pegar as malas, lá veio o KIT PORCO ZIO, triunfante e intacto.
            Valeu a pena o sufoco. A cara e a expressão de felicidade que a Aline e o Rafa fizeram quando viram o queijo e o salame e cheiraram o vinagre como se fosse o melhor dos perfumes franceses não têm preço.

4 comentários:

  1. Parabéns pelo blog: está muito bonito e as histórias estão muito bem contadas, com uma linguagem coloquial e bom humor. Tenho certeza de que será um sucesso.
    Aliás, já aproveito para assegurar aos leitores incautos de que é tudo verdade. "Très joli, de Paris" est le document officiel du voyage.
    Et allez-y! Prochain arrêt: Paris.
    Bisous, mon amour.
    Doug

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  2. Merci beaucoup!

    Eu confesso que a ideia de escrever um blog me causava pavor, mas agora estou achando divertido.
    Graças a um empurrãozinho do marido e dos amigos.

    Je t'embrasse!

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  3. haha! Otimo. Kit Porco zio.

    "Agente até pode sair de Bento, mas Bento não sai da gente, nem em são Paulo."

    ps - O Gustavo sente saudades da Olina e do fogão à lenha.

    Gostei do Blog.

    abraços :-)

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  4. É verdade, e tem outra: da terra do vinho saíste, à pipa retornarás.

    Abraços,
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