quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Shakespeare And Co.


Hoje tiramos a tarde para passear no Quartier Latin, uma região que fica às margens do Sena e é repleta de bares, restaurantes, teatros e livrarias. O Quartier Latin é a região em que fica a  Universidade de Paris (Sorbonne), e tem esse nome porque, da Idade Média até o século XVIII,  o latim foi a língua oficial na localidade. Nosso passeio foi pouco turístico, cada vez mais deixamos de lado os monumentos e vivemos como moradores parisienses: uma refeição regada a cerveja num dos bares do Quartier e uma maratona despretensiosa por sebos e livrarias. Achamos a gigante Gilbert Jeune com suas várias lojas separadas por estilo. Nessa nem entramos, pois não sairíamos antes de meia-noite sem ver tudo.   
Caminhamos mais um pouco e, bem ao lado da Notre Dame, encontramos a Shakespeare and Company, livraria aberta em 1951 por George Whitman e que é uma imitação da outra Shakespeare and Company  que  Sylvia Beach criou em 1919 e que foi a que publicou o Ulisses do Joyce. Ela foi fechada em 1941 durante o nazismo e a proprietária cedeu o nome a Whitman dez anos depois.
Antes de entrar na livraria, o cenário já é deslumbrante: muitas pessoas sentadas lendo e dois rapazes interpretando apaixonadamente uma peça em língua inglesa que minha limitação literária me impediu de identificar.
Logo na entrada, ainda na vitrine, vi o corvo do Poe, não o livro, o corvo mesmo, empalhado. Entramos de mansinho, olhando tudo. Nada de paredes brancas, nada novo; é uma casa muito antiga, como a maioria em Paris, com as vigas de madeira à mostra no teto. Em cada canto da livraria tem uma poltrona estofada ou cadeiras para os leitores ficarem à vontade em meio aos livros. O Douglas ficou fascinado; com certeza ele estava adorando aquilo ainda mais do que eu. Ficamos embasbacados com a beleza rústica daquele lugar e às vezes um chamava o outro pra mostrar uma das raridades que tinha encontrado.
No final do primeiro andar, vimos uma escada estreita que não sabíamos ao certo se podíamos subir. Tinha só uma plaquinha escrita a mão e, até onde entendi, dizia: piano, dormitórios, máquina de escrever...
A curiosidade nos deu coragem para encarar a subida. Valeu a pena; lá encontramos uma sala com livros não comercializáveis. Eles podem ser lidos somente naquele lugar. Raridades de colecionador. A parte de cima se parece mais ainda com uma casa; a diferença é que as paredes são forradas de estantes com livros. Numa das salas encontramos uma mesa em destaque, provavelmente usada por algum escritor famoso, (não sei, essa parte da história eu não li). Em outro cômodo mais adiante encontramos o tal piano citado na plaquinha. Ele está no meio de duas camas muito pequenas, então lembrei que o Juliano falou de uma livraria que abrigava escritores; não sei se é a mesma, mas já fiquei imaginando quem poderia ter passado por aquelas camas.  
O lugar é tão aconchegante que não parece um comércio, até porque não tem atendentes pentelhos atrás de você o tempo todo. Os únicos funcionários ficam em dois bureaus na entrada da livraria, o que faz com que você se sinta totalmente à vontade. Ficamos horas lá dentro, lendo coisas, descobrindo lugares e respirando aquele cheiro de livro velho que é tão bom quanto cheiro de café.
A decisão de ir embora foi difícil. Ainda bem que teremos mais nove meses para voltar a esse lugar. 











 



 







7 comentários:

  1. Que inveja! Um clássico de todo intelectual anglófono em Paris!

    Claro, era essa a livraria. Sei que são escolhidas duas ou três pessoas ao ano para se hospedarem gratuitamente na livraria. O critério são é o de que a pessoa tenha um projeto que envolva a escrita. Desde a escritura de um livro a uma tese acadêmica. P pessoal da livraria lê o projeto ou o esboço dele e escolhe quem ganha essa barbada. Muito legal

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  2. Olha que legal: procurei a matéria que li há alguns anos e encontrei na rede.

    Ei-la:

    http://bravonline.abril.com.br/conteudo/literatura/procura-se-utopia-432362.shtml

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  3. Outra referência ululante é o Antes do Pôr do Sol, a sequência do Antes do Amanhecer. O Filme começa na Shakespeare and Co. quando Ethan Hawke lança o livro sobre a experiência com A Julie Delpy no passado e esta, dez anos depois, o reencontra no lançamente nesta livraria.

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  4. Uau! Lendo a matéria que você mandou, descobri que vimos a própria Sylvia lá, a filha do Whitman, ela estava na parte de livros antigos.

    Abraços,
    Rê.

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  5. Maravilhoso!!! Aproveitem!!!

    Pelas fotos dá pra imaginar o tamanho dos lugares e a quantidade de coisas lindas que vcs devem estar vendo!!

    Beijokas!!

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  6. Pas de commentaires, j'ai envie de retourner .Buabuabua...
    Lindas as fotos, textos ..Pode-se sentir as emoções que vcs estão vivendo.

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  7. Re, moram mesmo escritores por lá, por isso as camas! Eu ate vi uma senhora se levantando e calçando meias por lá, provavelmente moradora! Incrível mesmo esse lugar parado no tempo =)

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