Logo que cheguei em Paris tive a ideia de pendurar o mapa da cidade num mural que tem no nosso quarto. Não somente pelo fato de admirar a cidade, mesmo quando estou em casa, mas também para grifar as ruas por onde passei. Toda vez que chego de um passeio pela cidade, pego minha destaca-texto verde e pinto as ruas que conheci no dia. Quando pendurei o mapa, ele era todo branco; agora já vai ficando cada vez mais colorido.
Essa semana eu estava a admirar o meu mapa e vi algumas ruas do Quartier Latin que ainda não tínhamos explorado. Fui pra internet e descobri que numa daquelas ruas tinham morado Hemingway e Joyce. Fiz o convite para o Douglas para irmos lá hoje, e ele, naturalmente, aceitou na hora. Então, combinamos de nos encontrar depois da minha aula de francês numa praça perto da Sorbonne. Chegamos quase ao mesmo tempo à praça combinada: de um lado, eu com minha colega tailandesa; de outro, o Douglas, que ia passando da praça sem vê-la.
Eu já tinha desenhado meu mapa, pois as ruas de Paris não são perpendiculares umas às outras; elas fazem voltas, e é muito fácil se perder por aqui. Assim, seguindo meus desenhos, descemos a Rue de l”Estrapade e chegamos à Place de la Contrescarpe, que fica na Rue Mouffetard, uma praça no coração do Quartier Latin, rodeada de bares que, provavelmente, foram frequentados por figuras importantes que citarei mais adiante. Tem até uma música do Jacques Brel chamada “Place de la Contrescarpe” (http://www.jukebo.com/jacques-brel/clip,place-de-la-contrescarpe,3u3xf.html). Me despedi da minha amiga tailandesa, que havia nos acompanhado até encontrar uma estação de metrô, e seguimos pela mesma rua “Mouffe” até encontrarmos a estreita Rue Descartes. Nessa, logo nos deparamos com a antiga casa de Verlaine, onde hoje funciona um restaurante.
Depois, seguimos pela Rue du Cardinal Lemoine e, quando chegamos ao número 71, encontramos a casa emprestada a James Joyce para terminar o livro “Ulisses”. Esse quartier é impressionante. Fiquei imaginando o Joyce subindo a rua concentrado ou a Piaf cantarolando “padam padam” e chutando umas latas que estavam no chão. Andamos mais um pouco e, no número 74, encontramos uma placa em homenagem a Hemingway. São exatamente aquelas ruas que o escritor cita no livro “Paris é uma Festa”, e estávamos ali, em frente à sua casa. Imaginem a nossa emoção de percorrer os caminhos feitos por toda a Geração Perdida! Inexplicável a sensação.
Continuando a caminhada pelo Quartier, fizemos toda a Rue des Écoles, e meu mapa manual chegou ao fim. Começamos então a nos perder por Paris. Encontramos o parque da École Polytechnique e, mais adiante, a estátua de Montaigne com seu pé dourado para as pessoas fazerem seus pedidos. E lá fomos nós também incomodar o gênio pra realizar nossos desejos. Pra terminar o passeio, com o sol recolhendo seus últimos raios, chegamos às margens do Sena, que é o melhor lugar para ver as cores do outono. Além disso, os bares nos arredores estão cada vez mais cheios e nós estamos cada vez mais apaixonados pela cidade. Montaigne, tenho mais um pedido: faça com que esta festa demore para acabar!
Rue Descartes |