quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Amizades orientais

            Os grupos de conversação que frequentamos toda a semana são ótimos para praticar a língua e também para conhecer pessoas. Toda semana podemos nos inscrever em até três grupos diferentes. Estamos conhecendo gente de quase todos os cantos do mundo: além dos brasileiros, que estão por toda parte, tem vietnamitas, russos, alemães, italianos, iranianos, taiwaneses, mexicanos, argentinos, chineses e japoneses. O que não vejo nos grupos são os americanos. Não conheci nenhum até agora, apesar da Casa dos Estados Unidos ser uma das maiores daqui. Acho que eles não querem se misturar muito.          
            Em cada conversação a turma muda, mas sempre tem aquelas pessoas que, como nós, vão toda semana. Assim, acabamos reencontrando os que sempre vão e criando um vínculo maior com eles. Tem uma japonesa que está em todas e é tão simpática que não pude deixar de puxar papo no final de um dos encontros. Vous êtes très sympathique, eu falei. E não foi gentileza minha;  ela tá sempre rindo, até quando fala. Viemos uma noite juntas pra casa, e ela me mostrou os peixes vermelhos que moram num pequeno lago em frente à Casa do Japão. Eu quis retribuir a simpatia e a convidei pra tomar um café na nossa casa. Ela aceitou na hora, com um sorriso. Entrou na Casa do Brasil já maravilhada com o convite e ficou impressionada com a arquitetura diferente. E eu tive aquela sensação de estar fazendo alguém feliz. Na saída, ela agradeceu muitas vezes, trocamos endereços de e-mail, e ela me convidou para algum dia jantarmos uma comida japonesa que ela mesma preparará.  Depois que ela foi embora, o Doug e eu ficamos conversando sobre isso. Será que é cultural os orientais convidarem pra almoçar e jantar nas suas casas? No Brasil não se faz isso no primeiro encontro, não de amizade pelo menos. No máximo, um café em algum lugar público.
            Eis que agora eu tive certeza de que isso é típico do Oriente. No meu curso de francês eu conheci uma tailandesa. Ela chegou na terceira aula, sem livros e sem cadernos. A professora já deu aquela detonada. Eu fiquei com pena e, no fim da aula, fui conversar com ela pra dizer os livros que ela teria que comprar. Além disso, no dia seguinte, sentei com ela pra ajudá-la com as lições, afinal o português está muito mais perto do francês do que o tailandês. Ela tem muita dificuldade. No final da aula, ela me perguntou se eu gostava da cozinha oriental, vi na expressão dela a felicidade por eu ter ajudado Eu disse que oui, j’aime beaucoup. Então ela me convidou pra almoçar no restaurante tailandês que a mãe dela abriu aqui em Paris. E, como se não bastasse, ainda apareceu hoje com um presente pra mim: um pote cheinho de sushi que ela pegou no restaurante de comida japonesa da tia. Me deu até aquele molho de vinagre para acompanhar.
              As minhas amigas de olho puxado são muito simpáticas e ainda me presenteiam com deliciosos pratos orientais. Eu é que não sei o que vou levar de presente pra minha amiga tailandesa agora. Se pelo menos eu tivesse posto umas havaianas na mala...

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