quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Rato

             Nesse final de semana que passou recebemos mais uma visita. Minha prima e seu marido, que estavam fazendo um tour pela Itália, passaram o final de semana aqui em Paris. Marcamos um encontro no sábado, às cinco horas da tarde em frente à Notre Dame. O que eu não esperava é que, com aquele frio, tivesse tanta gente por lá. Mesmo assim, minha prima, com seu olhar além do alcance, nos encontrou em menos de cinco minutos.
            Abraços e beijos e fomos passear pelo Quartier Latin e pelas margens do Sena. Paris estava linda com suas ruazinhas estreitas e seus cafés abarrotados, até que a chuva começou a cair muito forte, e tivemos que nos enfiar terra abaixo pela primeira estação de metrô para procurar um abrigo. Ficamos de uma estação a outra na esperança de que a chuva desse uma trégua. Meia hora de subsolo e nada da maldida parar, então resolvemos que melhor do que ficar ali era procurarmos um café. Já saindo da estação, avistamos um bar. Entramos e fomos conduzidos pelo garçom para o andar de baixo. Ficamos ali bebendo nossos cafés, comendo croissants e curtindo aquele ambiente cult, chique e aconchegante, até que...
            Vi um pequeno vulto no chão. Não falei nada, mas fiquei com um olho na mesa e outro no piso. E lá veio ele de novo avultando pro meu lado. Todo cinza e com aquele rabinho comprido, chegou bem perto de mim, me olhou nos olhos e voltou para debaixo de uns sofás. Eu olhei pra meus amigos, branca de susto, e falei: tem um rato aqui. Eles, naturalmente, não acreditaram em mim; acharam que eu tava de piada. Mas o ratinho me ajudou a provar: voltou a aparecer umas duas vezes, causando espanto coletivo.
            Já tínhamos tomado nossos cafés, então resolvemos cair fora. Na saída, o Douglas ainda falou para o garçom: tem um rato lá embaixo. O garçom riu e disse com naturalidade: um rato de Paris. E fez uma cara de: você queria que não tivesse ratos aqui? Só faltou completar: sim, é nosso rato de estimação. Ele não fez absolutamente nada, nem cara de constrangido. Achou aquilo muito normal e ainda riu. Minha prima, atordoada, começou a falar italiano com o garçom, reclamando que não tinha graça, que não era o Topo Gigio. Saímos do café apavorados. Mais com o garçom do que com o rato. Mas nem o rato nem o garçom acabaram com o nosso encontro: ainda fomos tomar um vinho italiano e dar umas risadas no hotel onde meus primos estavam hospedados. Minha prima Neusa, apesar de estar enojada com o roedor, continuou fazendo piada. Aliás, que humor o dela! Passei o final de semana todo rindo.
             No dia seguinte, fizemos o famoso passeio de barco pelo Sena. Inesquecível! Uma hora de emoções. A cidade vista do rio é mais linda ainda. Fomos também passear pelo Champs de Mars, só que a chuva definitivamente não nos largou. Paris tem dessas: você olha pro céu antes de sair de casa e não vê nenhuma nuvem, porém isso não quer dizer nada. Sempre leve seu guarda-chuva e um casaco. Infelizmente, não foi o que fizemos, e a chuva novamente começou a cair sobre nossas cabeças. Nossa sorte é que estávamos a alguns metros do maior e mais lindo guarda-chuva do mundo: a Torre Eiffel. Nos abrigamos debaixo dela e esperamos o tempo melhorar. Como sempre, a chuva passou rápido e, depois dela, o sol finalmente deu as caras e pudemos ir com nossos amigos visitar o Jardim de Luxemburgo. Eles não poderiam ir embora sem ver aquela maravilha. Ficamos lá um tempo e, quando o guarda soltou o apito avisando que iria fechar, fomos tomar um café em frente ao jardim.
            Nesse não vimos ratos, mas não pude deixar de lembrar do bichinho quando vi as bolinhas pretas do chocolate boiando na superfície da minha xícara. Comentei com eles a minha impressão e minha prima soltou uma gargalhada. O final de semana todo foi nesse ritmo de alegria. Fazia tempo que eu não ria tanto.
            No final do domingo fomos acompanhá-los até o metrô. Eu tava tão contente com a visita deles, que não me concentrava nos trajetos; me perdi várias vezes. Mas o marido da minha prima deu conta de nos localizar sempre com o seu mapa em mãos. Ainda no metrô, os dois enganaram a catraca que tanto complicou com a vida deles nesses quatro dias. Eles tinham gasto muito dinheiro num bilhete para quatro dias, mas na hora de passar a roleta, a mesma apitava e dava sinal de que o bilhete não valia. No último dia, eles já estavam comprando tickets toda vez que andávamos de metrô, até que, na última viagem, eles puderam se vingar do sistema. Quando iríamos passar pela roleta, e eles teriam mais uma vez que enfrentar fila e comprar bilhetes, uma porta especial para pessoas com malas abriu, e os dois se mandaram junto com as pessoas que passavam. Foi muito rápido. Nem eu vi o que eles fizeram. Fiquei procurando o casal, preocupada com o fato de que eles teriam que comprar bilhetes no meio de toda aquela gente. Quando olho pra frente, o Sadi, marido da minha prima, nos abanava do outro lado da roleta. Vi na cara deles a felicidade de terem enganado a catraca que tanto os fez sofrer. 
          Essa foi a última imagem que tive deles: tirando sarro do sistema francês. E, no final, mais uma despedida. Apesar do rato, o final de semana foi perfeito. É muito bom poder dividir essa cidade com pessoas das quais gostamos. Quem será a nossa próxima visita? Venham! Conheço um bar aqui em que você toma um café no porão que é uma delícia!







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