sábado, 23 de outubro de 2010

Milhares de fotos

            Se você vier pra Paris, jamais saia de casa sem a sua máquina fotográfica. Mesmo que você não vá visitar algum monumento ou jardim. Sempre leve a sua digital na bolsa. É impressionante como tem coisas bonitas nessa cidade em lugares que você nem imagina. Logo nos primeiros dias aqui, estávamos perdidos por umas ruas do Marais e, quando olho para o lado, me deparo com um castelo. Até já publiquei a foto no blog, mas, de tão lindo, vou publicar a foto de novo. E essa cena aconteceu muitas vezes desde então, só que a cabeça aqui frequentemente esquecia a máquina em casa.
            Eu sempre concordei com a teoria de que quem muito fotografa pouco vê. Mas depois que vim pra Paris eu comecei a mudar um pouco o meu pensamento, e vou dizer por quê: talvez seja a primeira e última oportunidade de eu estar aqui; e outra: e os meus amigos que não estão comigo e que eu queria que estivessem? Como vou descrever tudo que vi com palavras? Nem que eu fosse a reencarnação do Tolstoi eu conseguiria. Um dia eu discuti esse assunto com uma amiga na mesa do antigo Boteco do Dé. Eu dizia pra ela: detesto quando as pessoas fazem foto de tudo, elas não enxergam o que fotografam. Aí minha amiga respondeu: tu vai ver quando tu for viajar e ficar deslumbrada com o que vê; tu vai querer fotografar tudo. E eu retrucava: não vou não, eu acho isso o fim. É, mordi a língua; não tem como não fotografar Paris.
           O Douglas e eu também entramos em conflito quando o assunto é foto. Eu vou bem longe da câmera e digo: pega mais a paisagem e menos eu. Ele fica reclamando e dizendo que eu pareço uma formiga e que não tem graça se não dá nem pra reconhecer quem é. Mas é que a minha cara é muito menos importante do que o Arco do Triunfo, por exemplo. Eu prefiro que cortem a minha perna, mas que, pelo amor, não cortem as torres da Notre Dame. Outra coisa que o Douglas não gosta é de tirar foto só da paisagem. Se tu não vai aparecer na foto, que graça tem? Pega na internet que tem centenas iguais a esta, me diz ele. Mas é que pra mim não é a mesma coisa pegar na internet: eu sei que fui eu que bati aquela foto, que escolhi o ângulo e que eu estava lá naquele exato momento.
          Eu gosto de bater foto de lugares como os bares do Quartier Latin. O Douglas só me olha e diz: o que tu tá fazendo? Batendo foto do bar, ué. Que estranha que tu é!, diz ele. Se fosse da rua toda pelo menos...
          Porém, eu me divirto. Não saio mais de casa sem a máquina e, nessa brincadeira, já batemos quinhentas fotos aqui em Paris, registrando desde o Château de Vincennes e a Tour Eiffel até a cerveja e o pimentão caricato que compramos no Fran Prix.  Se continuarmos nesse ritmo, voltaremos ao Brasil com duas mil e quinhentas fotos na memória. Como a minha memória não tem tanta capacidade assim, eu prefiro garantir que não esquecerei essas imagens jamais.    
























5 comentários:

  1. Pro Douglas tu é mais importante que a Torre Eiffel! Amor é isso aí.

    Agora, temos duas visões de mundo antagônicas:

    A do Douglas, antropocêntrica, que vê o mundo ao fundo, como uma decoração da vida humana. A perspectiva pra ele é sempre o indivíduo em primeiro plano. Para entender a visão Ceccagnesca do mundo, basta uma leitura das primeiras páginas do Gênesis. Lá está que o mundo foi criado por Deus para servir ao homem. Essa visão, judaica, se estendeu pela cristandade e domina o ocidente há cerca de 1700, desde que Constantino cristianizou Roma.

    A Renata procura o além do humano. Nada a ver com Nietszche, e tudo a ver com os orientais. Apesar de ser o seu olho a selecionar a paisagem, tenta ir além do ego para ver o outro, o mundo. Renatatouille é zen, e procura destruir o EU. Ou, ampliá-lo.

    Ceccganone poderá argumentar que isso é bobagem - pois afinal, é o olho humano que fotografa, com ou sem a pessoa em primeiro plano.

    Quanto a mim, a minha visão é essa: publica as principais fotos no blogue. Porque quando vocês voltarem eu só quero ouvir as histórias. Nada de 3000 fotos.

    Um abração

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  2. Concordo com tudo q vc escreveu! Eu ando sempre com minha máquina, adoro fotos e adoro registrar tudo. Quando viajo então...

    Olhando as fotos de vcs ficamos imaginando as emoções q vcs sentem. E vcs vão olhar várias vezes as suas milhares de fotos, q trarão de volta as memórias desta linda viagem!

    Podem postar muuuuuuuuuitas fotos. Adoramos olhar Paris pelos seu olhos!

    Beijokas

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  3. Deise, você fotografa dez vezes o mesmo gato!
    E o Juliano agora é um pragmático da preguiça embasado historicamente...
    Ó céus parisienses!

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  4. By the way, Rê... lindas as fotos!!! Com ou sem pessoas, o que a gente sempre quer é tentar passar as emoções que sentimos quando estamos nesse momento!!!
    Era sobre isso que eu falava na mesa do Bar... sobre querer levar as pessoas até onde estão nossas emoções. Como as pessoas que amamos estão num lugar distante, acabamos tirando a foto até do buraco da fechadura, se ela tiver alguma história pra contar naquele momento!!!
    bjos!
    O importante é se divertir muito e sempre!
    Aproveitem!!!

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  5. Eu também sou da escola "pega mais a paisagem e menos eu". Acho que é influência do Cenecista.

    E concordo quanto a sair com a câmera na mão. E acrescentaria: também um bom pen drive pra quando o cartão de memória ficar cheio.

    bjs
    M.

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